quarta-feira, 18 de julho de 2007

Les Tupiniquins From Gringolândia 03

O interesse latente pela música brasileira não se limita apenas à cultura ocidental. Do Japão vem o DJ Cornelius, que por certa feita já desconstruiu nosso segundo hino, Aquarela do Brasil. Assim como a extinta banda feminina experimental Cibo Matto, que sempre tocavam Tom Jobim ao vivo e elogiavam sons brasucas toda hora. Outros experimentalistas sonoros que curtem nosso balaco-baco são a dupla teuto-francesa Stereo Total e os ingleses do Stereolab, ambos com diversas referências à nossa sonoridade e fazendo covers de canções.


Mas há também uma outra oriental, esta radicada na Inglaterra e arrebentou com som estilo terceiro mundo a M.I.A.. Bucky Done Gone, seu carro-chefe que a lançou nas paradas, veio da música Injeção, da funkeira Deise Tigrona. De origem cingalesa M.I.A. no seu album de estréia, Arular, mostra mais influências de funk carioca no caldeirão miscigenado de música eletrônica perpetrado por ela. Não se pode esquecer que este primeiro disco foi co-produzido pelo namorado da cingalesa, o estedunidense oriundo de Miam, Diplo, que já lançou algumas coletâneas (mixtapes) de toscas bandas brasileiras nos Estados Unidos com relativo sucesso. Ele foi também co-responsável pela ida do Bonde do Rolê ao exterior, lançando um single deles por sua gravadora. Diplo também passou uma temporada no Rio de Janeiro pesquisando os sons do funk carioca pra lançar um documentário, ainda inédito, que provavelmente deve ter uma reverência ao irmão favelado que o gringo também adotou, o DJ Marlboro.

Impossível esquecer de um brasileiro que está há mais de 40 anos vivendo e fazendo música brasileira na terra do tio Sam, Sérgio Mendes, que em 2006, obteve grande sucesso na mesclagem de rap comercial e música brasileira, no disco Timeless, que conta com participações de Black Eyed Peas e Erykah Baduh. Uma banda de rap oriunda do underground, o Jurassic 5, quando quis flertar com a música comercial, fez o cover instrumental com fracos arranjos latinos para o clássico de Vinícius de Moraes & Baden Powell, com O Canto de Ossanha.

Relação de um gringo e a música com o país da bossa nova engraçada mesmo não é de um músico, mas sim de um diretor de cinema, o finlandêns Mika Kaurismäk, que quis fazer um pseudo-Buena Vista Social Club em nossas terras, quando filmou Moro no Brasil, explicitando sua vontade de comprar um buteco no Rio de Janeiro só pra ter sambistas sempre presentes em sua velhice. E você, vai envelhecer escutando som daqui mesmo? Bye, and don't call me gringo.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Les Tupiniquins From Gringolândia 02

Seria muita pretensão de nós brasucas pensarmos que o movimento antropofágico foi feito só pra gente. Claro que a gringaiada que vem aqui acaba deglutindo esta idéia também. Nos mares de outrora, aqui por nossa costa os corsários faziam comércio entre os tapuias. Hoje em dia o que era escambo ocorre através da cultura, e quando o assunto é música, há exemplos bem diversificados.

A banda belga de world music Think of One, durante três discos mesclou ritmos anglo-saxônicos (ska, rock, jazz) com música marroquina. Para isso, viajaram ao norte da África e recrutaram músicos tarimbados para a mescla oriente/ocidente. Agora, nos dois últimos discos, converteram seu foco para a música brasileira de raiz à sua pancada de direções, sem perder o rumo. Vieram ao Brasil e conseguiram a participação de uma grande cantora, desconhecida do público em geral, aparecida alguns anos atrás no disco de estréia do Instituto, a Cila do Coco, que canta as melhores músicas tanto no disco Chuva em Pó (2004), quanto em Tráfico (2006), respectivamente Caranguejo e Tira Onda, esta última, uma bem-humorada tirada de sarro THCzística.

Reconhecida no meio trip-hop internacional, o Wax Poetic é outra banda que agora vem até nossa fonte beber com a gente. Já tiveram Norah Jones como interpréte no álbum anterior, o que lhes deu uma certa iluminada no mundo pop. Assim como o Think of One, o Wax Poetic também é experiente em mesclar sons orientais/ritmos excêntricos a sua sonoriade e agora lançaram um disco com parcerias brasileiras, Wax Poetic Brasil (2007). Porém, as participações deste álbum são mais substanciais e de um modo mais presente no disco, como Otto, que participa de três canções, e Mamelo Sound System, além dos citados no texto anterior Bebel Gilberto e Forro in the Dark.O disco ainda recebe umas pitadas de uma tendência que vem assolando a música descolê brasileira, que é o brega, latente na bem-humorada Bombeiro, com Gilmar (de onde veio esse Gilmar?).

Ah, a paixão de Kurt Cobain por Mutantes pode ter sido um dos motivos dessa cartada dinossáurica nos moldes gringos ter acontecido com nossos Very Naice Pra Xuxu. Como assim? Isso mesmo, quando tocou aqui naquele festival de rock que acontecia todo início de ano em São Paulo e Rio de Janeiro, ele apelou em vão para que os integrantes da banda retornassem. Logo deu um tiro na testa, mas ao menos tinha levadopra casa uma pancada de vinil, que aplicou no pessoal do Sonic Youth, Sean Lennon (filho do homem) e Beck (este logo gravou um disco com o sugestivo nome Mutations , que possuía a bossanovística música Tropicalia). Só pra ter noção de como os indies gringos babam ovo do Mutantes, é que quando o Belle & Sebastian tocou Minha Menina aqui, não foi a versão em inglês (nem a de Jorge Ben), não é que tentaram tocar a música direitinho? Melhor que a Zélia Duncan, ah se foi...

Outros que têm a ver com essa onda mutantística, os Beastie Boys e seu produtor brasileiro, Mário Caldato Junior, são aficcionados é em Jorge Ben mesmo. Nos dois últimos discos deles, sente-se berimbau sampleado no rap Hey Fuck You, um título Suco de Tangerina, numa das peças desse último disco instrumental, além de apitos e andamento escola de samba em canções jazzísticas. Jazz? Tem também os guitarristas Charlie Byrd, John Pizzarelli, o cantor e trumpetista Dizzy Gillepsie e mais um monte de gente que eu não conheço e é fanático por música brasileira. Bem, deu pra cansar né? Enjoou não? então comenta aí.

terça-feira, 10 de julho de 2007

The Tupiniquins From Gringolândia 01

Hoje em dia há um novo tipo de música brasileira em voga no mundo. Aquela que não é feita por gente daqui, ou aqui. Isso mesmo, ao contrário do que acontecia há 20 anos atrás, hoje em dia são as bandas estrangeiras que produzem material inspirado em nossa sonoridade. Aquela batucada e violada mesmo, que muita gente nunca deu muito valor. Não que a babação de ovo que críticos estrangeiros estão dando a nós seja a coisa mais fantástica da história da MPB, o negócio é que faz um tempo que observo nossas influências lá fora. E resolvi debruçar sobre aquilo tudo que ouvi falar, pois poderia desenvolver um texto daqueles que gostaria de ler.

Até onde eu sei nosso som foi pra vitrine quando Carmen Miranda seguiu pra viver em Hollywood e gravou diversos sambas brasileiros em formato pasteurizado. Ela influenciou o maior cantor americano das décadas de 1930 e 1940, Bing Crosby,a gravar Na Baixa do Sapateiro, de Ary Barroso (obviamente a versão era cantada em inglês). Depois, já na década de1960, Tom Jobim ladeou Frank Sinatra por uma turnê em que o cantor do século cantou sucessos bossanovísticos, resultando num álbum de grande sucesso, Francis Albert Sinatra & Antônio Carlos Jobim.

Durantes as décadas de 1960 e 1970 o registro mais evidente que eu tenho de outros povos bebendo na nossa fonte é através do multifacetado artista francês Serge Gainsbourg, numa exaltação ao maior poeta maldito de seu povo, Baudelaire. Já nos fins do século XX, a engajada banda de ragga Fabulous Troubadors, também vinda da terra de Asterix apareceu com o CD On The Linha Imaginot, citando Maria Bonita e fazendo dueto com um coro nordestino no improvável forragga Cançon de la Prima. Porém, ao citar estes galícios engajados, não poderia deixar de citar o Massilia Sound System uma das mais tradicionais bandas de raggamufin de seu país, que em 2002, quando estavam pesquisando a origem dos trovadores franceses e seu legado, descobriram no nordeste brasileiro os últimos herdeiros dos bardos medievais - os repentistas - resultando no magistral album Occitanista, que conta com a participação de Lenine e Nação Zumbi. Mas de todos esses franceses que fizeram música brasileira de alguma maneira, aqui, o mais famoso deles, sem dúvida, é Manu Chao, que em certo momento de sua vida, chegou a viver em algumas cidades brasileiras. Um de seus maiores sucessos é cantado em português, e já foi até gravada pelo mundo livre s/a, a descolada Minha Galera.

Engraçado que hoje em dia, até brasileiro que vai morar na Gringolândia vira gringo. Como assim? Este é o caso dos imigrantes brasucas radicados em Nova Iorque e seu guitarrista ianque, membros do Forró in the Dark, que após fazerem sucesso sem querer na Big Apple, foram apadrinhados pelo quase-brasileiro David Byrne, que cantou duas músicas no album deles. A ex-integrante da banda Cibo Matto, Miho Hatari, também participa numa versão em japonês do clássico de Gonzagão, Paraíba.

Lembrei quando em mil novecentos e noventa e poucos, o Paul Simon apresentou o Olodum pro mundo num videoclip gravado no Pelourinho, como se a música brasileira fosse a salvação do mundo. Hoje em dia a cada piscada, aparece mais uma dessas bandas de world music gringas, que chegam aqui e saem recrutando percussionista brasileiro pra dar uma sonoridade 'tropical' ao seu som. Isso é bom? Só sei que quem recrutou o mesmo Olodum como decoração e veio aqui pra aproveitar de nossa imagem foi o Michael Jackson, que subiu o morro do Santa Marta na gravação de seu videolip-denúncia-social (hahaha) e ainda conseguiu fazer o Marcinho VP ficar famoso.

Mike Patton, conheceu a glória quando cantava com o Faith No More aqui por nossas plagas antes mesmo deles serem famosos em sua própria terra, o que pode ter influenciado-os a gravar em seu penúltimo disco a bossanova com refrão em 'portosquês', Caralho Voador. Depois houveram flertes dos outros projetos do senhor 10.000 vozes com nossa sonoridade, desde a balada-tosca Desastre Natural, do Tomahawk, ao bom gosto do trip-bossa Caipirinha, em que faz dueto com a onipresente Bebel Gilberto no recente Peeping Tom. Desse tipo de parceria de nomes estabelecidos do hemisfério norte com brasileiros, não poderia deixar de esquecer do Asian Dub Foundation, que após passarem pelo Brasil em 2001, firmaram parceria com Edy Rock, dos Racionais MC's e fizeram um som tipicamente deles em 19 Rebellions, com letra denunciando o massacre dos 111 presos executados no Carandiru, escrita pelo rapper Gog.

Nem mesmo o movimento pernambucano Manguebeat deixou de ter seus seguidores pelos mares do mundo, como é o caso dos escoceses não bem-sucedidos do Bloco Vomit, que homenageiam o ídolo Chico Science e tocam canções notórias do punk rock em ritmo de maracatu e até de axé, como é o caso de Shoul I Stay or Should I Go, do The Clash. Já o Nation Beat, era uma banda maracatu de Nova Iorque que veio para o Brasil e gravou um disco com misturas de country, jazz, côco e música regional e é recheado de convidados pernambucanos (vale a pena baixar o disco, neste link com o nome da banda tem um artigo sobre a banda com o download do único abum deles). Tava falando dos covers maracapunks meio de mau gosto, agora, digo dos covers de bom gosto dos franceses Nouvelle Vague, que relêm clássicos do rock dos anos 1970/80 em ritmo de bossa nova.

(continua, pois faltou falar de rap, jazz, outras bandas européias e mais qualquer coisa que você pode sugerir).

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Billy e Sua Velha Identidade


Até que aquela bandinha Zwan, produziu uma ou duas boas baladas, mas nada que fosse arrebatador como os velhos sucessos da banda que fez Billy Corgan famoso. Então, desde 1999 que o Smashing Pumpkins não gravava nada. Durante o hiato de quase uma década em que seu mentor andou enveredando por caminhos pouco rentáveis e menos ainda criativos, agora tudo renasceu em forma de dinossauro.

Foi preciso pegar de volta o nome Smashing Pumpkins para que as coisas voltassem a funcionar. Mesmo sem contar com a presença do guitarrista James Iha, que parece não ter sido convidado para a reunião. Muito menos a baixista original, D'arcy Wretzky, que enfrentou sérios problemas com drogas nos últimos anos, chegando até mesmo a ser presa.

Ironicamente, o único membro da formação original (além do chefão) é o baterista Jimmy Chamberlin, que em 1996 foi expulso da banda porque estava injetando heroína no quarto de um hotel em Nova Iorque quando ocorreu a morte do músico de apoio em turnê, Jonathan Melvoin. Pouco antes da banda 'terminar', em 1999, Chamberlin chegou a tocar na turnê de Machina com a banda novamente.

O mais engraçado de tudo é que no ano de 2005, Corgan deu uma entrevista dizendo que o Smashing Pumpkins não voltaria nem por decreto, parecia Sandy e Júnior fazendo lobby de mídia. Agora já faz mais de um ano que essa volta foi anunciada. Ele deve ter enjoado de fazer tanta baladinha pra 'tentar chegar nas FMs'. Sorte dos fãs da boa música. Pra isso foram recrutados o jovem guitarrista Jeff Schroeder, que largou seus estudos de PhD em literatura comparada na Universidade da Califórnia; e a baixista Ginger Reyes, da banda de punk-chicletes Halo Friendlies (será que é uma macumba na qual o posto de baixista é sempre ocupado por uma mulher?).

Há cerca de dois meses, vazou na net o primeiro single do disco Zeitgeist, Tarantula, literalmente um soco no estômago com suas guitarras cortantes logo de cara, como não se via há muito tempo. A força parece vir já na capa do album, com a estátua da liberdade afundando num mar de sangue, criada pelo artista urbano Shepard Fairey, criador da marca Obey Giant. A banda não poderia nem colocar essa capa nem muito menos estar falando dos temas que diz agora se estivesse na época do 11 de setembro. Nada mal, essa banda, que era mais atrelada ao sentimento próprio, hoje já vem dizer algo do tipo; "Revolution blues, what will they do to me?" na épica United States. Mais pontos altos: 7 Shades of Black, Doomsday Clock, Neverlost e Stars, esta última com uma batida que lembra o clássico Bullet With Butterfly Wings.

Clique aqui para baixar o album completo.
fonte: O Dilúvio

A Balada do Arnaldo

Os Mutantes fizeram um show aqui em Belo Horizonte há pouco mais de três meses e isto não foi motivo para que este show ficasse mais vazio. Obviamente que grande parte dos presentes (incluindo este que vos escreve) só apareceu ali pelo fato do evento estar sendo bancado pelo maior banco estatal do país, e para seus clientes o ingresso foi 0800.

O evento estava marcado para começar 21 horas. E por incrível que parecça, começou em ponto, com o público ainda chegando no recinto.

Bem, gosto de Mutantes? Amo, mas essa coisa de banda que volta 30 anos, depois de acabar com mega-briga e tudo soa esquisito né? Ainda mais que para cada músico original, havia um genérico contemporâneo no palco. Não tinha como errar. O nosso Ozzy, Arnaldão Baptista, tocando teclado e cantando dependurando em frente de seu tele-prompter é até louvável, pra quem sabe um pingo sobre a trajetória dele. Mas um músico tarimbado como o irmão dele, Sérgio Dias, precisar de mais dois guitarristas para segurar a onda é demais não? Demais o quê, 11(isso mesmo, onze) músicos no palco conseguem fazer um show ruim? Depende, quando eles estão afim de mostrar que ainda são grandes virtuosos conseguem chegar num grau máximo daquela palavra enfadonha. Ando Meio Desligado deve ter tido um arranjo de encerramento do mesmo tamanho da música, pra mim, um porre de desarranjo.

Ah, a percussionista Simone Soul, toca muito, parece uma figura saída de um local sombrio, seus arranjos deram novo corpo às velhas canções. Aqui, agora é sério, uma das coisas mais interessantes neste tipo de show é você olhar pro seu lado (principalmente se você está perto do palco) e ver os ataques de histeria das pessoas parecendo que estão no melhor show de sua vida. Demais essa sensação do público, que raramente um fotógrafo tem interesse em registrar.

Teve ponto alto? Tiveram vários, eu mesmo curti demais A Hora E A Vez Do Cabelo Nascer e os momentos mais agitados. Dois Mil e Um, Top Top e Bat Macumba, esta já no bis. Acho que pro público, o clímax foi em Balada do Louco, corrijam-me se eu estiver errado.

E quanto à maior incógnita dessa nova formação? Bem Zélio Duncan (nada contra sua orientação sexual, se esta já saiu da armário, também não me interessa), com sua voz grave se sai bem nos momentos que a voz precisa de força e até mesmo pra agitar a turba, mas quando o negócio é doçura, acho que o Max Cavalera ganha. Foram poucos o momentos que essa sensibilidade foi exigida, mas a banda acabou perdendo uma faceta poderosa de suas canções.

O show terminou com Panis et Circensis, que, não sei de onde eu tirei isso, mas no final achei que rolou um arranjo á lá Bolero de Ravel nas tais viagens virtuosas deles, dessa vez suportável.

crédito da foto: Haroldo Kennedy
resenha originalmente postada no Lastfm do Jão