sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Ouvi Falar de Releituras - Parte 2


Bem, então veio rapidinho a segunda e última parte falando das tais regravações musicais. Que não são exemplos maiores de como se fazer um cover criativo. Porém, na minha opinião dizem muito tanto sobre os artistas regravadores quanto dos regravados;

- Mike Patton - Ford Mustang (Serge Gainsbourg cover) - Difícil fazer um cover piorado desta grande canção. Feito há mais de dez anos pelo multi-instrumentista e Sinatra moderno, foi minha introdução ao mestre da chanson francesa Serge Gainsbourg e digo que é demais de ouvir no fone de ouvido.

- Gogol Bordello - Mala Vida (Mano Negra cover) - Esta versão não sai do meu winamp nos últimos tempos. A batida cigana desta canção feita pela banda do ucraniano Eugene Hütz mais do que combinou seu timbre à pluralidade da antiga banda de Manu Chao.

- David Bowie - Cactus (Pixies cover) - O camaleão do rock não gosta de ficar pra trás quando o assunto é conhecimento de bandas novas e criativas. Quando ele fez esse cover, o Pixies nem existia mais. Porém se você for olhar na genealogia do rock, os Pixies só foram existir uns 20 anos após o primeiro disco dele. Quanto à música em si, acho que até não fãs de Bowie ou de Pixies podem gostar.

- Ramones - Surfin' Bird (The Trashmen cover) - São os vovôs do punk tocando aquilo que eles mais gostavam de escutar em casa. Mais fiel que isso só a torcida do Corinthians, se ela continuar existindo com o time em queda.

- Mutantes - Tempo no Tempo (The Mamas & The Papas cover) - Um pouco de cabaré nesta quase vinheta que até mesmo muitos fãs do Mutantes não sabem que é da mesma banda de California Dreaming.

- Mombojó - Anarquia (Ronnie Von cover) - Essa ainda não recebeu uma versão digna em estúdio. A versão que saiu no disco ao vivo da banda é quase boa. Porém deixo-a aqui pelo fato de ser poderosa pra ver a banda tocando-a (essa força da canção não fácil de sair no disco). Pode pedir pra tocar 'aquela do Ronnie Von' no show que vale a pena. Quase ninguém sabe que foi o Ronnie Von que deu o nome pros Mutantes né? Psicodelia e pancada!

- Los Sebosos Postizos - Quero Esquecer Você (Jorge Ben cover) - O falecido projeto paralelo dos integrantes da Nação Zumbi tocando essencialmente Jorge Ben tem neste cover sua mais potente variante. Curta e fina.

- Butthole Surfers - Hurdy Gurdy Man (Donovan cover) - Com um vocal ligeiramente distorcido por um pedal, o vocalista Gibby Haines parece soluçar enquanto canta esta balada. Parceiros de Johnny Depp no projeto P, fizeram desta versão uma coisa fiel e irônica ao mesmo tempo.

- NY Loose - Lust for Life (Iggy Pop cover) - Se você já assistiu Trainspotting, imagine o protagonista do filme correndo no ritmo deste cover. Não ia ser pego nunca.

- Los Straitjackets - Shake That Rat (Nick Lowe cover) - Agora pra quem gosta de surf music, um som instrumental coeso e pulsante. Uma das maiores bandas do gênero em atividade, aqui com a participação do próprio Nick Lowe e seu baixo bem pessoal.


quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Rotatória 4 - 5ºfeira, 13 de dezembro de 2007

Existem shows feitos com o único intuito de arrecadar. Lugares fechados pedem isto. E quanto às ruas, tão carentes de eventos espontâneos? Nesta quinta-feira, 13 de dezembro, vai acontecer o Rotatória (dentro da rotatória) na esquina das ruas Pernambuco com Gonçalves Dias.

Mistura de show com encontro casual de pessoas com interesses comuns, (ou não), desta vez o tema das fantasias sugeridas ao público é zumbi. Quem for fantasiado de Jesus Cristo, ganha prêmio extra. Blasfêmia? Não precisa pagar pra ver.

A mídia alternativa esboça ser usada como ferramenta de agrupamento coletivo através de grupos politizados como o Reclaim the Streets, ou descompromissados como os flashmobs. Em Belo Horizonte, existem tentativas esporádicas em se fazer este tipo de coisa. Desde o Kaza Vazia (que apesar de não ser na rua é numa casa aberta ao público) ao Vacas Magras (que não deve acontecer mais) e os legendários shows da Rotatória.

Quem foi em algum, sabe que os tais shows Rotatória são de uma energia e vitalidade sem precedentes na noite belorizontina. Por enquanto ocorreram três noitadas desse gênero, cada um com um tema, de circo a piratas.

Começou sem querer, quando o dono de uma boate negou o flyer de uma festa que o pessoal do coletivo Azucrina faria em sua casa de shows. Desde então, a bateria e a guitarra do duo Monster Surf não parou de infectar noites ‘rotatorísticas’ barulhentas sem data nem local muito planejado. E agora eles vão vir aparelhados com a participação dos polêmicos UDR, formando o projeto experimental Esquadrão Relâmpago Monster Surf. Vai chover zumbi, você tem medo?

E dessa vez, não vai ter festa em porta de boate. Mesmo assim estes azucrinados (que podem incluir você também) vão arriscar fazer a bagunça, sem a garantia de não serem interrompidos por vizinhos reclamões ou policiais mal-humorados.


sábado, 8 de dezembro de 2007

Ouvi Falar de Releituras - Parte I

Sempre gostei de escutar covers ou remixes criativos, desde que sejam audíveis. Andei lendo através de um link encontrado no e-mule um blog que conta sobre os melhores e piores covers da história.

Bem, como cada um tem sua versão e eu discordei bastante daquela, vim humildemente contribuir. Fiz minha lista daquelas que considero algumas das melhores releituras (e covers) de todos os tempos. Qual a diferença?

Considero que existem duas categorias de covers, a releitura e o cover, pastiche mesmo. Então escolho dez relidas de cada tipo, tudo comentado.

Primeiro as releituras que fazem arranjos rítmicos criativos em cima da versão original, tornando-a muitas vezes irreconhecível;

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Golden Shower - Ich Will Spielen, Mim quer Tocar (Ultraje à Rigor cover) - Desconheço uma releitura tão desconstruída e tão resolvida quanto esta. Famosos pelos seus vídeos, a banda paulista releu a famosa canção dos ultrajantes como se fosse o próprio Kraftwerk tocando. Precisa mais?

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William Burroughs - Is Everybody In? (The Doors cover) - Pouco antes de desencantar, o célebre poeta beatnik foi recrutado pelos sobreviventes de uma das maiores bandas de todos os tempos para desconcertar uma nervosa releitura de um poema de seu fã, Jim Morrisson, com ecos do próprio 'Rei Lagarto' gritando ao fundo. De arrepiar.

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Molotov - Revolution'll not be Televised (Gil Scott Heron cover) - Parece que este hino da música negra foi feito pra ser cantado em espanhol. O Molotov nunca quis ser considerada uma banda politizada, mas acertou em cheio ao trazer pra nossos tempos globalitários esta ótima versão.

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The Slits - I Heard It Through The Grapevine (Marvin Gaye cover) - Esta banda feminina de ska-dub lançou um discaço em 1979 que é um marco e sua melhor canção é sem dúvida este cover, que é mais conhecido quando tocado pelo Creedence Clearwater Revival. Vale a pena procurar.

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Rage Against The Machine - Renegades of Funk (Afrika Bambaata cover) - Não é a toa que este clássico do funk dá título ao último álbum que o RATM gravou no estúdio. Existe na internet uma versão instrumental desta versão matadora.

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Nouvelle Vague - Dancing With Myself (Billy Idol cover) - A canção mais famosa do poser-punk Billy Idol recebeu um tratamento bossanovístico-fox trot nesta suave (mas nem por isso desanimada) versão da configurável banda especializada em regravar que tem diversas cantoras francesas convidadas interpretando grandes clássicos dos anos 80.

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Beastie Boys - Time for Livin' (Sly And Family Stone cover) - No auge de sua carreira, estes rappers, judeus brancos voltam às suas raízes punk rock, muito bem tocado nesta visceral interpretação.

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Little Quail & The Mad Birds - Samba do Ernesto (Adoniran Barbosa cover) - Quando o rock brasileiro estava consolidando no cenário nacional, os bem-humorados integrantes desta banda brasiliense (que deu origem ao Autoramas) teceram um tijolo com o samba revoltado de Adoniran.

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Virna Lisi - Eu Quero Essa Mulher (Monsueto Menezes cover) - Outro samba em versão pauleira, é mais famosa na versão de Caetano Veloso, já foi citado aqui em no blog na matéria sobre a banda.

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Noriel Vilela - Dezesseis Toneladas (Jonnhy Cash cover) - Bem, essa música não é do Cash, mas como sua versão é a mais famosa fora do Brasil, fica como se fosse dele. A maioria dos ouvintes do vozeirão de Noriel nem imagina que este samba era originalmente um rock bem primitivão chamado Sixteen Tons.

Ainda esta semana, outra lista com os
covers que são mais fiéis às versões originais e mesmo assim possuem identidade própria. Aguardem.


sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

o pangaré branco levou o moleque.
e empacou no meio do caminho.
bem aí, temeu a velhice.

sendo que tinha acabado
de aprender a andar.


quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Turbo Trio & LCD Soundsystem em Belo Horizonte

Quando você vai assistir uma apresentação musical onde não se espera muito, costuma se surpreender. Não sei se isto aconteceu comigo quando fui assistir ao show do Turbo Trio e do LCD Soundsystem (quem tocou, antes, entre e depois dessas bandas, eu prefiro nem comentar). O local do show estava bem decorado e com um mega-telão atrás do palco durante todas as apresentações, o que foi um bom apelo.

Este último festival Eletronika que ocorreu em Belo Horizonte parece ter tido uma divulgação aquém de um evento assim. Isto deve ter colaborado para que o Marista Hall não enchesse. E essa foi a melhor parte, pois um show com público médio é o ideal para poder assistir tranquilo.



O Turbo Trio, que é um projeto de funk carioca de B-Negão com alguns integrantes do Instituto, acabou de lançar um bom disco, o Baile Bass, repleto de referências a Afrika Bambaataa num funk ‘de raiz’ com esse grande nome do rap nacional como frontman. O show do Turbo Trio contou com a participação de Iggor Cavalera (agora se grafa é com dois ‘G’s) e um Mix Hell dos infernos, que é a sua esposa. Gostei de Turbo Trio e aprecio muito o ex-Sepultura tocando sua percussão ensandecida, porém no meio do funk, apesar de pauleira, fica faltando identidade humana. Muito pancada e pouca identidade, devem ter ensaiado pouco. Se é que ensaiaram.

Desconheço um rapper brasileiro tão versátil como esse Bernardo Negro, que já cantou com gente como Paralamas do Sucesso, Cordel do Fogo Encantado, Otto, Marcelinho da Lua, Ceguinhas de Campina Grande (a melhor faixa do tributo a elas em minha opinião), Macaco etc. É uma ótima figura para animar o público, quem já foi a um show dele já sabe, não pára um segundo.

Minha maior crítica mais negativa a tudo isso é a música A Dança do Patinho, que eu até gosto, mas é tocada há tanto tempo por B-Negão. Desde o Funk Fuckers, depois no Seletores de Frequência e agora no Turbo Trio. Muda só elementos da letra e a batidinha.

Já o LCD Soundsystem, que eu pensei que ia chegar aqui tocando playback, trouxe uma banda afiada para se apresentar aqui no Brasil. Tocaram todos os hits de seus álbuns e o vocalista James Murphy (o faz-tudo do conjunto) tentou conversar em português com a platéia, aquelas coisa de gringo. Sem reclames.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

River Phoenix, Jim Morrisson, Hopper


a caminho de fazer um rebelde,

o outro dennis acabou órfão transviado.


se perder ídolo virou rotina,

esse sem destino acelerou na poça.


ah, um mero fumante na sarjeta que

olha assustado numa banda perdida

se a gota compromete sua fumaça.


é reflexo da pressa fútil de guardar memória

num racha de porsche a cada esquina, ensopada

pela admirável velocidade que cria-se um mito.


(a meu amigo Rui César, a foto por Dennis Stock)

terça-feira, 13 de novembro de 2007

A Pan-Montanha (Deus é Mexicano?)

Quando eu ainda vestia fraldas (não literalmente) os únicos cantores que eu tinha ouvido falar eram John Lennon e Luiz Gonzaga. Depois, quando eu já era quase punk/metal fiquei sabendo daquela revelação do beatle mais queridinho; Que eles eram mais famosos que Jesus.

Aí quando a gente fica sabendo por qualquer um que é fã da banda mais famosa de todos os tempos que os Beatles acabaram por causa da Yoko Ono, ela fica com jeito de bruxa oriental. Quer sabotagem maior? A maior performance da vida da japa. Mesmo que a história não tenha sido bem assim, ficou sendo. (Por um acaso, esse ano ela lançou um disco cheio de participações especiais bem legais, desde Peaches, Le Tigre a The Flaming Lips).

Bem, mas agora eu não vou falar de Yoko Ono e nem de música especificamente. Vou falar de um produto insano que veio da grana que tanto o Rei Roberto Carlos, quanto nossos pais e avós, que torraram em discos dos Dê Besouros, logo ali depois que a banda acabou.

Em 1970, o polêmico diretor Alejandro Jodorowsky, então residente no México, consegue uma aproximação com o casal mais evidente do mundo naquela época, que pira com o filme que ele tinha acabado de finalizar, o faroeste psicodélico El Topo. Pronto, John eYoko cismam de bancar o lançamento do filme nos Estados Unidos, num horário para cinema que acabaria se imortalizando como ícone dos malditos; A Sessão da Meia-Noite.

Se deu retorno financeiro eu não sei. Sei que El Topo deu fôlego pra que até mesmo Allen Klein, o empresário da maior banda de rock de todos os tempos fosse recrutado por John Lennon pra ser produtor do próximo trabalho de Jodorowsky, o megalomaníaco Holy Mountain. Um filme tão ou mais polêmico que O Cão Andaluz, feito ainda na década de 20 por Luiz Buñuel e Salvador Dalí.

Será? Holy Mountain extrapola sua abordagem impactante atirando pra todo lado. Desde Jesus, sexismo, críticas sociais, preconceito, violência e tarot. Forte como nunca visto até então numa super-produção tão bem cuidada como aquela. Deve ser um dos motivos pelo qual foi banido em todo mundo por mais de 30 anos e agora em 2007 foi relançado em cópia digitalmente restaurada. Além de ser referência para gente do calibre de David Lynch e dos irmãos Joel e Ethan Coen ou Peter Gabriel (Marilyn Manson não conta).

Faço também uma conexão tupiniquim, pra quem se liga em Tropicália e contra-cultura brasileira. Arrisco que Jodorowsky é o irmão cineasta de José Agrippino de Paula, o recém-falecido escritor do clássico Pan América.

Curioso notar que esse é um filme dirigido por um diretor chileno, descendente de judeus-russos que viveu sua formação artística em Paris. E que lá ele tomou contato com o livro do surrealista René Daumal, O Monte Análogo: Uma Novela de Autênticas Aventuras Não-Euclidianas, que posteriormente deu origem a Holy Moutain, produção mexicana bancada por um rock star inglês. Mais mundializado, naquela época, difícil. Em 1973, deve ter sido algo bem incomum para a produção mais cara da história do México, (na época, U$1.5000.000,00).

Pra quem curte coisa do naipe de Laranja Mecânica ou filmes de não assistir com a família, vale a conferida. E quem não viu o trailer, tá esperando o quê? Gostou, baixa o torrent com os extras do DVD gringo, pois vale a pena.




quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Pra quê tanto apetite?

"Daqui da fome dá pra ver o que acontece", será? Assim a fome sem fim de nossa espécie é analisada num trecho da canção-título de Fome de Tudo, o novo disco do Nação Zumbi. Disco virtual, diga-se de passagem, já que eles entraram na onda de vender pela net. Fazem uns dias que achei o disco por aí, de cara encontrei uma falha comparando com os dois anteriores; onde está aquela música que você gosta de ouvir sem parar? Será que isso é realmente um problema?

Não que o disco seja ruim, seria difícil pra quem já fez tanta coisa boa errar tão feio. Legal que Jorge du Peixe está mais generoso e deixa os seus companheiros participarem mais nas vozes. Ou seria a mão do produtor pseudo-brasileiro Mário Caldato Júnior (Beatie Boys, Molotov, Björk, Beck etc), que chegou leve, mas com certeza trouxe uma sonoridade suingada para a banda de Recife? Caldato trouxe com ele o tecladista dos Beatie Boys, Money Mark para participar da faixa Assustado. Há também participações de Júnio Barreto em Toda Surdez Será Castigada que trouxe uma leveza necessária à canção, além da queridinha Céu na sombria Inferno, onde a moça parece ter ficado um pouco tímida.

Um disco se faz pela sua coesão. De repente seja cedo para dizer que este trabalho seja o mais fraco comparado aos dois últimos, pois o foi o que me pareceu. Destaque tímido para Onde Tenho que Ir, raspando nos bons momentos.

Engraçado que essa preguiça com o disco novo do Nação Zumbi ter vindo após eu ter ficado sabendo no Futuro da Música que eles não dão entrevista que não seja para aquele canal que só tocava videoclips e hoje só tem nome de música. Imagina, num festival, você indo entrevistar uma das bandas principais e só aquele canal de televisão antipático tem sua exclusividade? Eu entendo um contrato desses, afinal eles têm que comer né? Seria daí a Fome de Tudo?


terça-feira, 16 de outubro de 2007

Ele Bebeu Cigarros Bagaraio

Pra finalizar a saga gainsbourgiana, não poderia deixar alguns aspectos da vida do senhor da canção francesa passar batido. Como assim canção francesa? Serge Gainsbourg pode ser considerado um vanguardista popular mundialmente falando, pois já na década de 1960, fazia um liquidificador sonoro repleto de temas sexistas e escatológicos em sua influente obra. Por exemplo? Tinha uma música chamada "O Furador da Passagem de Metrô" e um disco com o nome de "O Homem com a Cabeça de Repolho" que, relevante notar, na foto ao lado há um repolho e passagens de metrô jogadas em seu túmulo como lembranças ao finado. Já que suas letras nem sempre faziam muito sentido, demorou a fazer sucesso em seu próprio país. Quando estourou o disco de reggae no fim da década de 1970 é que seus discos anteriores foram resgatados como clássicos, e, aí sim, começou a vender de verdade.

Pois quando ele apareceu, o iê-iê-iê estava dominando as paradas do mundo todo e, como bom francês, se negou a seguir tendências do que acontecia pelos países anglo-saxônicos. Nunca alcançou sucesso nem na Inglaterra nem nos Estados Unidos enquanto vivo, mesmo tendo se casado com a atriz Jane Birkin (dela indico o clássico Blow-Up, de Michelangelo Antonioni, em que aparece deliciosa no papel de uma groupie fanática pelo fotógrafo-protagonista).

Ah, existem dois discos de tributo a ele, um de 1997, chamado Great Jewish Music - Serge Gainsbourg, só tem duas músicas boas, com excesso de nomes alternativos e esquisitos, mas ao menos todas são cantadas em francês. E Monsieur Gainsbourg Revisited, de 2006, repleto de bandas americanas e inglesas indiezinhas fazendo covers em versões traduzidas para o idioma dominante. Um desastre, salvo raríssimas exceções.

Existem alguns álbuns dele que não se pode esquecer, como Aux Armes et Cætera (1978), inteiramente gravado na Jamaica com apoio dos papas rastafari, Sly Dunbar na bateria, Sticky Thompson na percussão, Robbie Shakeaspear no baixo e das I Threes fazendo backing vocals. Certa vez ouvi uma história interessante, que não tinha na biografia, não sei se é verdade, mas vou contar assim mesmo. A integrante das I Threes, Rita Marley, cantou suas partes no disco direitinho, mas quando seu marido, o pacífico Bob Marley, ficou sabendo do conteúdo das letras, quis matar o cantor francês, que felizmente já tinha retornado pra casa. Porém, a verdadeira polêmica deste disco se sucedeu na França, quando os versos iniciais da faixa título do álbum foram ressoados neste reggae;
Allons enfants de la patrie / Lê Jour de gloire est arrivé”; pra nós, mortais que não falamos francês não é nada, mas isto é a introdução da Marselhesa, o hino dos galeses. Foi uma afronta do tamanho de God Save the Queen, dos Sex Pistols ou do Star Spangled Banner sarcasticamente levado por Jimi Hendrix em Woodstock.

Histoire de Mellody Nelson (1971) é um álbum temático sobre o amor de um homem mais velho por uma ninfeta, considerado pela maioria dos fãs como a obra máxima de Serge. Já eu, pessoalmente prefiro Bonnie & Clyde (1968), que ele escreveu para Brigitte Bardot na época do filme hollywoodiano homônimo, grande sucesso naquela época.

Ironicamente, um dos mais famosos discos do cantor filho de imigrantes judeus russos nascido na França é uma afixação pelo nazismo. Ninguém poderia brincar tanto com o tema quanto Serge, pois viveu sua infância afligido pela matança de seus semelhantes, fingindo ser católico. É outro disco temático, quase um psychobilly, repleto de perversão e sanguinolência, nos moldes de Rocky Horror Show, denominado Rock Around the Bunker (1975).

Sempre compôs músicas para as grandes divas da canção francesa enquanto viveu, desde Brigitte Bardot, Françoise Hardy, Juliette Greco, a Catherine Deneuve, passando por Vanessa Paradis (a Vou de Táxi original, lembra?).

Aqui, uns fatos interessantes para ilustrar o balaio de gatos que era a vida dele. Pra começar, escreveu uma auto-biografia quase dadaísta, em forma de paródia, onde a personagem principal, que dá nome ao livro, Evguénie Sokolov, é um super-herói que adquire o sucesso através de flatulências. Claro que o livro foi massacrado pela crítica, mas deve ter rendido boas piadas, com certeza. Organizava, junto do pintor surrealista Salvador Dali, amostras de filmes bizarros só para amigos e policias, que eram seus companheiros de porre pela madrugada de Paris quando ninguém atendia seus telefonemas. Até Leão de Prata no festival de cinema em Cannes ele recebeu por dirigir um comercial para produtos de cozinha. Só não falei que ele era formado em Belas Artes e fissurado nas vanguardas artísticas do século XX. A sorte é que seu pai, que era pianista na noite, arrastou o filho para tocar em bordéis nada amistosos no subúrbios de Paris, o resto todo mundo já sabe.

Então, deixo uma palha do original Gainsbourg com a então amada Bardot, em versão art pop trash;

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Bebi Cigarros Demais

Os grandes cânones musicais costumam ser algumas das coisas mais chatas para se escutar no cotidiano. Quer seja por repetição contida em nossos genes, dos amigos, ou de gente que não suportamos, sempre há um motivo para que venha uma canseira natural em escutar certas coisas que todo mundo escuta.

Certas pessoas, como eu, têm uma tendência a cansar daquilo que nos é colocado de forma impositiva. Claro que de certa forma, quase tudo acaba sendo. A não ser que seja uma busca pessoal de cada um por suas novidades através de dicas de bom gosto ou influências a partir de algo que a gente gosta.

Pois foi a partir do prezado cantor de calypso Mike Paton que conheci uma grande música chamada Ford Mustang, que sabia desde o princípio ser de Serge Gainsbourg, ‘aquele cantor barangão francês’, o mesmo que compôs aquela música de motel que todo mundo conhece, Je T'Aime (Moi Non Plus). Pronto, bem aos poucos comecei a pegar músicas e ler sobre o tal camarada. E não é que comecei a gostar?

O que começou a me pegar no som deste beberrão e fumante inveterado é que cada música dele que eu pegava era de um estilo musical diferente. Ou seja, tudo que os Beastie Boys ou o Beck queriam ser se estivessem na década de 1960. Até então, eu tinha pegado umas canções picadas. Aí comecei a catar os álbuns, que vieram cair tão bem aos meus ouvidos como nordestino em São Paulo.

Difícil dizer por qual estilo musical o senhor Gainsbourg trafegou com maior desenvoltura, se pelo jazz, o rock, o reggae, o rap ou até mesmo pela bossanova. Sei que fiquei impressionado com o tanto de medalhão da música que diz ser apreciador da obra dele, desde o povo do Sonic Youth, My Blood Valentine e Pulp à Michael Stipe, Placebo, Franz Ferdinand, Feist, Rakes etc. No Brasil, eu não sei de gente que se diz explicitamente influenciada por ele, mas sei que Jane Birkin, ex-esposa e eterna musa do figura, fez dueto com Caetano Veloso em uma releitura de Leãozinho. E que em 1984, na trilha sonora da mini-série global A Máfia No Brasil, sua música Sex Shop foi incluída e fez relativo sucesso.

Mas peraí, se você procurar algo sobre Serge Gainsbourg no Google, vai ver que hoje em dia ele é apenas o pai da atriz e cantora moderninha Charlotte Gainsbourg, afinal ele faleceu em 1991, depois de uma vida desregrada, cheia de mulheres e polêmicas. Uma delas eu indico pra assistir aqui, que gera um desconforto digno da mais estapafúrdia cena de Woody Allen, quando o senhor Gainsbarre (apelido que ele se dava quando bêbado) abordou a cantora Whitney Houston ao vivo em rede nacional francesa com um sonoro “I want to fuck you”, vale a pena ver;


Bem, finalmente, como terminei de ler o livro Um Punhado de Gitanes - Biografia de Serge Gainsbourg, de Sylvie Simmons, ainda vou colocar mais alguma coisa sobre a vida dele aqui na sequência.



segunda-feira, 10 de setembro de 2007

5 Inspiradores de Palavras

O Toledão, apesar de nem avisar que mudou de endereço, foi quem me convidou a fazer isto e topei. 5 obras que influenciaram a minha vida, por ordem do que descobri primeiro;

Considerado um dos textos mais bem escritos do século XX, Cem Anos de Solidão foi o livro que me trouxe a leitura, quando eu ainda vivia na roça e nem pensava em ler algo que não fosse quadrinhos. É chover no molhado ficar falando da obra, mas, em suma, é a história de um povoado fictício da Colômbia, chamado Macondo. Que na verdade é uma releitura da terra natal de Gabriel Garcia Marquez, Aracataca. Lembro-me de ter lido que ele foi processado por uma tradicional família de lá, pelo fato de estar contando as histórias de um amigo de infância dele e perdeu o processo. Daí, a bíblia ganhou esse irmão louco.


Ganhei Pan América de aniversário em 2002. Foi minha introdução à literatura sem muitos limites de costumes. O considero uma máquina de incitar doido dormente a pirar de vez. O autor José Agrippino de Paula mesmo, morreu há pouco tempo, com a cabeça em 1968, ano do lançamento deste clássico tropicalista. Tem gente que não consegue ler faltando cinco páginas pra terminar esta história que não tem parágrafo, da qual o personagem central se transmuta em cineastas, atores e guerilheiros andando pelo nonsense. Lembro de Caetano Veloso falando que é a Odisséia de Homero na voz de Max Cavalera, mas é muito melhor que isso.


Este livro inspirou algumas façanhas mirabolantes nessa vida errante que levo. CAOS - Terrorismo Poético & Outros Crimes Exemplares foi escrito pelo fictício Hakim Bey, alcunha anônima de Peter Lamborn Wilson, prolífico escritor de histórias fantásticas que misturam fatos reais, ficção, política e religiões orientais de uma maneira bem fantasiosa. Mistura de texto engajado com poesia na medida certa, não é um livro pra ler com a cabeça quente e muito menos pra ser levado a sério. Pra quem não está acostumado, existem uns ranços de erudição exacerbada na prosa do escritor, o que não chega a incomodar o desenvolvimento da idéia central (se é que ela existe).


Sem Logo - A Tirania das Marcas Num Planeta Vendido é a mais pura contestação social surgida nos últimos anos, em minha modesta opinião. Juntando seu apurado faro com uma mirabolante gana e pesquisa jornalística, a canadense Naomi Klein teceu um brilhante mosaico de notícias, onde encontramos desde os pequenos deslizes aos grandes erros das grandes multinacionais do planeta. Propaganda, trabalho escravo, ecologia, protestos. Nada passa despercebido ao aguçado sentido de contestação da escritora. E sem precisar se passar por fundamentalismo esquerdista rasteiro.


Nada dá mais prazer em trabalhar numa pesquisa do que ler um livro prazeroso. Explico. Como a maioria de meus amigos sabem, desde o princípio de 2006, venho trabalhando na pesquisa sobre a vida de Joaquim Rolla. Quando peguei o livro de Carmen pra ler, não consegui largar. E olha que ele tem mais de 500 páginas. Tudo bem que as letras são grandes, mas nada como uma leitura bem construída e envolvente, num tema fascinante. No caso, o cenário é o Rio de Janeiro das décadas de 1910 a 1930, passando por Hollywood, na fase que a a pequena notável ficou mundialmente conhecida até desfalecer depois de se acabar em anfetaminas. Parabéns Ruy Castro.

Agora convido o Renato Negrão, o Bill, Higienezê e o Rafael a repetirem a dose em suas medidas.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Não Vou Mais Esperar

Sou um mineiro que mal conhece a música feita no meu estado, apesar de viver aqui desde que nasci. Acho o Clube da Esquina melancólico demais, as bandas famosas aqui das alterosas me soam excessivamente oportunistas, simpatiquinhas demais ou simplesmente as desconheço, apesar de fazerem grande sucesso no país.

Aconteceram com poucos sons que conheci, eu tomar contato pela primeira vez e gostar. Foi o caso desta banda com nome de uma atriz italiana. A primeira vez que os vi/ouvi foi num programa do tipo democlips, com um riff que me contagiou logo de cara, da canção Esperar o Quê?. Naquela época, eu morava na roça e mal tinha vontade de comprar um disco de vinil, ainda mais aquele, que era de uma gravadora independente.

Algum tempo depois, no inverno de 1995, acontecia na cidade de Nova Era, bem ao lado de onde morava, um festival de música anual e naquele ano tinha um monte de banda 'pesada'. A mais 'paulêra' delas, tocou numa quinta-feira pra inaugurar o festival. Daí, eu, com 17 anos, roubei a moto do meu irmão (com uma lanterna improvisada no farol) e fui ver o show, que não tinha mais do que 20 pagantes. O show foi até legal, mas de tanto as pessoas ao meu redor reclamarem, achei que pudesse ser um pouco pior do que eu imaginava. Final de show, o pequeno público saiu dali reclamando marimbondo e eu, como gostava de um barulho, não entendi nada. Fiquei incomodado de ter sido o único ali a gostar.

Poucos meses depois, no dia 2 de setembro de 1995, mais uma vez escondido da família, fui "passar o fim de semana" em Belo Horizonte. Na verdade, depois de sonegar uma certa mesada, eu tinha era ido a um mega-festival de rock em São Paulo, o Monsters of Rock, que tinha nada menos que Ozzy Osbourne, Faith no More, um monte de bandas e...Virna Lisi, que àquela época tinha lançado seu segundo disco, O Que Diriam os Vizinhos, com influências de congado, samba e violas bem naquele período em que havia uma onda de mesclar o rock a ritmos brasileiros, coisa que os roqueiros mais radicais não perdoam. Eles só não foram vaiados naquele show predominantemente metaleiro pelo fato de terem chamado o baterista Igor Cavalera para tocar percussão no hit deles, Eu Quero Essa Mulher (cover de Monsueto Menezes). Interessante notar que o público desses dois shows que eu fui deles neste curto períoco devem ter sido o menor e o maior de toda história da banda.

A derradeira obra do Virna Lisi viria no ano seguinte, com nome escalafobético e produção caprichada do ex-Legião Urbana (eca!) Dado Vila-Lobos. Se Desce A Lona Vira Circo, se Cerca Vira Hospício é um álbum caprichoso com arranjos de violinos, violoncelos e percussões fantásticas. Tem a fenomenal Eu Vou te Mostrar, que teve um belo videoclip caprichado á la Smashing Pumpkins. Mas o disco, que tem sua capa ilustrando estes devaneios, não vendeu porra nenhuma e a banda, que esperava ser um grande sucesso acabou antes da hora. Pra fazer esse texto, vi gente falando que não gostava deles, mas ficou assustado de ver como algo de tanto talento se expirasse tão rápido. Ao menos nos deixaram essas grandes obras e um legado que influencia muita gente. Tem pra baixar aí na net, facinho, eu mesmo peguei os três discos e até mesmo o hino do Cruzeiro.

Os ex-integrantes da banda ainda hoje circulam pelo meio musical, e têm seus respectivos projetos; Ronaldo Gino faz trilhas sonoras para filmes e comerciais e Marcelo de Paula tem sua própria banda. Já o ex-vocalista César Maurício, faz video-arte, compõe música pra gente famosa e já fez até umas parcerias com o Lô Borges. O que fica é a atitude e o som desta banda que não se preocupava com rótulos e marcou a história da música independente do Brasil com muita criatividade e talento.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Gogol Tosquello

Se você gosta de novidades musicais, já deve ter ouvido falar de Gogol Bordello. É uma banda que se auto-denomina punk-cigano. Eu diria música contemporânea cigana, pois se você escutar os discos deles, verá que é uma salada musical danada (normalmente, sem deixar de ser rock).

Mesmo se você conhece Gogol Bordello e não gosta, se assistir esse clip vai achar uma graça. Aviso que é uma coisa gay.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Les Tupiniquins From Gringolândia 03

O interesse latente pela música brasileira não se limita apenas à cultura ocidental. Do Japão vem o DJ Cornelius, que por certa feita já desconstruiu nosso segundo hino, Aquarela do Brasil. Assim como a extinta banda feminina experimental Cibo Matto, que sempre tocavam Tom Jobim ao vivo e elogiavam sons brasucas toda hora. Outros experimentalistas sonoros que curtem nosso balaco-baco são a dupla teuto-francesa Stereo Total e os ingleses do Stereolab, ambos com diversas referências à nossa sonoridade e fazendo covers de canções.


Mas há também uma outra oriental, esta radicada na Inglaterra e arrebentou com som estilo terceiro mundo a M.I.A.. Bucky Done Gone, seu carro-chefe que a lançou nas paradas, veio da música Injeção, da funkeira Deise Tigrona. De origem cingalesa M.I.A. no seu album de estréia, Arular, mostra mais influências de funk carioca no caldeirão miscigenado de música eletrônica perpetrado por ela. Não se pode esquecer que este primeiro disco foi co-produzido pelo namorado da cingalesa, o estedunidense oriundo de Miam, Diplo, que já lançou algumas coletâneas (mixtapes) de toscas bandas brasileiras nos Estados Unidos com relativo sucesso. Ele foi também co-responsável pela ida do Bonde do Rolê ao exterior, lançando um single deles por sua gravadora. Diplo também passou uma temporada no Rio de Janeiro pesquisando os sons do funk carioca pra lançar um documentário, ainda inédito, que provavelmente deve ter uma reverência ao irmão favelado que o gringo também adotou, o DJ Marlboro.

Impossível esquecer de um brasileiro que está há mais de 40 anos vivendo e fazendo música brasileira na terra do tio Sam, Sérgio Mendes, que em 2006, obteve grande sucesso na mesclagem de rap comercial e música brasileira, no disco Timeless, que conta com participações de Black Eyed Peas e Erykah Baduh. Uma banda de rap oriunda do underground, o Jurassic 5, quando quis flertar com a música comercial, fez o cover instrumental com fracos arranjos latinos para o clássico de Vinícius de Moraes & Baden Powell, com O Canto de Ossanha.

Relação de um gringo e a música com o país da bossa nova engraçada mesmo não é de um músico, mas sim de um diretor de cinema, o finlandêns Mika Kaurismäk, que quis fazer um pseudo-Buena Vista Social Club em nossas terras, quando filmou Moro no Brasil, explicitando sua vontade de comprar um buteco no Rio de Janeiro só pra ter sambistas sempre presentes em sua velhice. E você, vai envelhecer escutando som daqui mesmo? Bye, and don't call me gringo.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Les Tupiniquins From Gringolândia 02

Seria muita pretensão de nós brasucas pensarmos que o movimento antropofágico foi feito só pra gente. Claro que a gringaiada que vem aqui acaba deglutindo esta idéia também. Nos mares de outrora, aqui por nossa costa os corsários faziam comércio entre os tapuias. Hoje em dia o que era escambo ocorre através da cultura, e quando o assunto é música, há exemplos bem diversificados.

A banda belga de world music Think of One, durante três discos mesclou ritmos anglo-saxônicos (ska, rock, jazz) com música marroquina. Para isso, viajaram ao norte da África e recrutaram músicos tarimbados para a mescla oriente/ocidente. Agora, nos dois últimos discos, converteram seu foco para a música brasileira de raiz à sua pancada de direções, sem perder o rumo. Vieram ao Brasil e conseguiram a participação de uma grande cantora, desconhecida do público em geral, aparecida alguns anos atrás no disco de estréia do Instituto, a Cila do Coco, que canta as melhores músicas tanto no disco Chuva em Pó (2004), quanto em Tráfico (2006), respectivamente Caranguejo e Tira Onda, esta última, uma bem-humorada tirada de sarro THCzística.

Reconhecida no meio trip-hop internacional, o Wax Poetic é outra banda que agora vem até nossa fonte beber com a gente. Já tiveram Norah Jones como interpréte no álbum anterior, o que lhes deu uma certa iluminada no mundo pop. Assim como o Think of One, o Wax Poetic também é experiente em mesclar sons orientais/ritmos excêntricos a sua sonoriade e agora lançaram um disco com parcerias brasileiras, Wax Poetic Brasil (2007). Porém, as participações deste álbum são mais substanciais e de um modo mais presente no disco, como Otto, que participa de três canções, e Mamelo Sound System, além dos citados no texto anterior Bebel Gilberto e Forro in the Dark.O disco ainda recebe umas pitadas de uma tendência que vem assolando a música descolê brasileira, que é o brega, latente na bem-humorada Bombeiro, com Gilmar (de onde veio esse Gilmar?).

Ah, a paixão de Kurt Cobain por Mutantes pode ter sido um dos motivos dessa cartada dinossáurica nos moldes gringos ter acontecido com nossos Very Naice Pra Xuxu. Como assim? Isso mesmo, quando tocou aqui naquele festival de rock que acontecia todo início de ano em São Paulo e Rio de Janeiro, ele apelou em vão para que os integrantes da banda retornassem. Logo deu um tiro na testa, mas ao menos tinha levadopra casa uma pancada de vinil, que aplicou no pessoal do Sonic Youth, Sean Lennon (filho do homem) e Beck (este logo gravou um disco com o sugestivo nome Mutations , que possuía a bossanovística música Tropicalia). Só pra ter noção de como os indies gringos babam ovo do Mutantes, é que quando o Belle & Sebastian tocou Minha Menina aqui, não foi a versão em inglês (nem a de Jorge Ben), não é que tentaram tocar a música direitinho? Melhor que a Zélia Duncan, ah se foi...

Outros que têm a ver com essa onda mutantística, os Beastie Boys e seu produtor brasileiro, Mário Caldato Junior, são aficcionados é em Jorge Ben mesmo. Nos dois últimos discos deles, sente-se berimbau sampleado no rap Hey Fuck You, um título Suco de Tangerina, numa das peças desse último disco instrumental, além de apitos e andamento escola de samba em canções jazzísticas. Jazz? Tem também os guitarristas Charlie Byrd, John Pizzarelli, o cantor e trumpetista Dizzy Gillepsie e mais um monte de gente que eu não conheço e é fanático por música brasileira. Bem, deu pra cansar né? Enjoou não? então comenta aí.

terça-feira, 10 de julho de 2007

The Tupiniquins From Gringolândia 01

Hoje em dia há um novo tipo de música brasileira em voga no mundo. Aquela que não é feita por gente daqui, ou aqui. Isso mesmo, ao contrário do que acontecia há 20 anos atrás, hoje em dia são as bandas estrangeiras que produzem material inspirado em nossa sonoridade. Aquela batucada e violada mesmo, que muita gente nunca deu muito valor. Não que a babação de ovo que críticos estrangeiros estão dando a nós seja a coisa mais fantástica da história da MPB, o negócio é que faz um tempo que observo nossas influências lá fora. E resolvi debruçar sobre aquilo tudo que ouvi falar, pois poderia desenvolver um texto daqueles que gostaria de ler.

Até onde eu sei nosso som foi pra vitrine quando Carmen Miranda seguiu pra viver em Hollywood e gravou diversos sambas brasileiros em formato pasteurizado. Ela influenciou o maior cantor americano das décadas de 1930 e 1940, Bing Crosby,a gravar Na Baixa do Sapateiro, de Ary Barroso (obviamente a versão era cantada em inglês). Depois, já na década de1960, Tom Jobim ladeou Frank Sinatra por uma turnê em que o cantor do século cantou sucessos bossanovísticos, resultando num álbum de grande sucesso, Francis Albert Sinatra & Antônio Carlos Jobim.

Durantes as décadas de 1960 e 1970 o registro mais evidente que eu tenho de outros povos bebendo na nossa fonte é através do multifacetado artista francês Serge Gainsbourg, numa exaltação ao maior poeta maldito de seu povo, Baudelaire. Já nos fins do século XX, a engajada banda de ragga Fabulous Troubadors, também vinda da terra de Asterix apareceu com o CD On The Linha Imaginot, citando Maria Bonita e fazendo dueto com um coro nordestino no improvável forragga Cançon de la Prima. Porém, ao citar estes galícios engajados, não poderia deixar de citar o Massilia Sound System uma das mais tradicionais bandas de raggamufin de seu país, que em 2002, quando estavam pesquisando a origem dos trovadores franceses e seu legado, descobriram no nordeste brasileiro os últimos herdeiros dos bardos medievais - os repentistas - resultando no magistral album Occitanista, que conta com a participação de Lenine e Nação Zumbi. Mas de todos esses franceses que fizeram música brasileira de alguma maneira, aqui, o mais famoso deles, sem dúvida, é Manu Chao, que em certo momento de sua vida, chegou a viver em algumas cidades brasileiras. Um de seus maiores sucessos é cantado em português, e já foi até gravada pelo mundo livre s/a, a descolada Minha Galera.

Engraçado que hoje em dia, até brasileiro que vai morar na Gringolândia vira gringo. Como assim? Este é o caso dos imigrantes brasucas radicados em Nova Iorque e seu guitarrista ianque, membros do Forró in the Dark, que após fazerem sucesso sem querer na Big Apple, foram apadrinhados pelo quase-brasileiro David Byrne, que cantou duas músicas no album deles. A ex-integrante da banda Cibo Matto, Miho Hatari, também participa numa versão em japonês do clássico de Gonzagão, Paraíba.

Lembrei quando em mil novecentos e noventa e poucos, o Paul Simon apresentou o Olodum pro mundo num videoclip gravado no Pelourinho, como se a música brasileira fosse a salvação do mundo. Hoje em dia a cada piscada, aparece mais uma dessas bandas de world music gringas, que chegam aqui e saem recrutando percussionista brasileiro pra dar uma sonoridade 'tropical' ao seu som. Isso é bom? Só sei que quem recrutou o mesmo Olodum como decoração e veio aqui pra aproveitar de nossa imagem foi o Michael Jackson, que subiu o morro do Santa Marta na gravação de seu videolip-denúncia-social (hahaha) e ainda conseguiu fazer o Marcinho VP ficar famoso.

Mike Patton, conheceu a glória quando cantava com o Faith No More aqui por nossas plagas antes mesmo deles serem famosos em sua própria terra, o que pode ter influenciado-os a gravar em seu penúltimo disco a bossanova com refrão em 'portosquês', Caralho Voador. Depois houveram flertes dos outros projetos do senhor 10.000 vozes com nossa sonoridade, desde a balada-tosca Desastre Natural, do Tomahawk, ao bom gosto do trip-bossa Caipirinha, em que faz dueto com a onipresente Bebel Gilberto no recente Peeping Tom. Desse tipo de parceria de nomes estabelecidos do hemisfério norte com brasileiros, não poderia deixar de esquecer do Asian Dub Foundation, que após passarem pelo Brasil em 2001, firmaram parceria com Edy Rock, dos Racionais MC's e fizeram um som tipicamente deles em 19 Rebellions, com letra denunciando o massacre dos 111 presos executados no Carandiru, escrita pelo rapper Gog.

Nem mesmo o movimento pernambucano Manguebeat deixou de ter seus seguidores pelos mares do mundo, como é o caso dos escoceses não bem-sucedidos do Bloco Vomit, que homenageiam o ídolo Chico Science e tocam canções notórias do punk rock em ritmo de maracatu e até de axé, como é o caso de Shoul I Stay or Should I Go, do The Clash. Já o Nation Beat, era uma banda maracatu de Nova Iorque que veio para o Brasil e gravou um disco com misturas de country, jazz, côco e música regional e é recheado de convidados pernambucanos (vale a pena baixar o disco, neste link com o nome da banda tem um artigo sobre a banda com o download do único abum deles). Tava falando dos covers maracapunks meio de mau gosto, agora, digo dos covers de bom gosto dos franceses Nouvelle Vague, que relêm clássicos do rock dos anos 1970/80 em ritmo de bossa nova.

(continua, pois faltou falar de rap, jazz, outras bandas européias e mais qualquer coisa que você pode sugerir).

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Billy e Sua Velha Identidade


Até que aquela bandinha Zwan, produziu uma ou duas boas baladas, mas nada que fosse arrebatador como os velhos sucessos da banda que fez Billy Corgan famoso. Então, desde 1999 que o Smashing Pumpkins não gravava nada. Durante o hiato de quase uma década em que seu mentor andou enveredando por caminhos pouco rentáveis e menos ainda criativos, agora tudo renasceu em forma de dinossauro.

Foi preciso pegar de volta o nome Smashing Pumpkins para que as coisas voltassem a funcionar. Mesmo sem contar com a presença do guitarrista James Iha, que parece não ter sido convidado para a reunião. Muito menos a baixista original, D'arcy Wretzky, que enfrentou sérios problemas com drogas nos últimos anos, chegando até mesmo a ser presa.

Ironicamente, o único membro da formação original (além do chefão) é o baterista Jimmy Chamberlin, que em 1996 foi expulso da banda porque estava injetando heroína no quarto de um hotel em Nova Iorque quando ocorreu a morte do músico de apoio em turnê, Jonathan Melvoin. Pouco antes da banda 'terminar', em 1999, Chamberlin chegou a tocar na turnê de Machina com a banda novamente.

O mais engraçado de tudo é que no ano de 2005, Corgan deu uma entrevista dizendo que o Smashing Pumpkins não voltaria nem por decreto, parecia Sandy e Júnior fazendo lobby de mídia. Agora já faz mais de um ano que essa volta foi anunciada. Ele deve ter enjoado de fazer tanta baladinha pra 'tentar chegar nas FMs'. Sorte dos fãs da boa música. Pra isso foram recrutados o jovem guitarrista Jeff Schroeder, que largou seus estudos de PhD em literatura comparada na Universidade da Califórnia; e a baixista Ginger Reyes, da banda de punk-chicletes Halo Friendlies (será que é uma macumba na qual o posto de baixista é sempre ocupado por uma mulher?).

Há cerca de dois meses, vazou na net o primeiro single do disco Zeitgeist, Tarantula, literalmente um soco no estômago com suas guitarras cortantes logo de cara, como não se via há muito tempo. A força parece vir já na capa do album, com a estátua da liberdade afundando num mar de sangue, criada pelo artista urbano Shepard Fairey, criador da marca Obey Giant. A banda não poderia nem colocar essa capa nem muito menos estar falando dos temas que diz agora se estivesse na época do 11 de setembro. Nada mal, essa banda, que era mais atrelada ao sentimento próprio, hoje já vem dizer algo do tipo; "Revolution blues, what will they do to me?" na épica United States. Mais pontos altos: 7 Shades of Black, Doomsday Clock, Neverlost e Stars, esta última com uma batida que lembra o clássico Bullet With Butterfly Wings.

Clique aqui para baixar o album completo.
fonte: O Dilúvio

A Balada do Arnaldo

Os Mutantes fizeram um show aqui em Belo Horizonte há pouco mais de três meses e isto não foi motivo para que este show ficasse mais vazio. Obviamente que grande parte dos presentes (incluindo este que vos escreve) só apareceu ali pelo fato do evento estar sendo bancado pelo maior banco estatal do país, e para seus clientes o ingresso foi 0800.

O evento estava marcado para começar 21 horas. E por incrível que parecça, começou em ponto, com o público ainda chegando no recinto.

Bem, gosto de Mutantes? Amo, mas essa coisa de banda que volta 30 anos, depois de acabar com mega-briga e tudo soa esquisito né? Ainda mais que para cada músico original, havia um genérico contemporâneo no palco. Não tinha como errar. O nosso Ozzy, Arnaldão Baptista, tocando teclado e cantando dependurando em frente de seu tele-prompter é até louvável, pra quem sabe um pingo sobre a trajetória dele. Mas um músico tarimbado como o irmão dele, Sérgio Dias, precisar de mais dois guitarristas para segurar a onda é demais não? Demais o quê, 11(isso mesmo, onze) músicos no palco conseguem fazer um show ruim? Depende, quando eles estão afim de mostrar que ainda são grandes virtuosos conseguem chegar num grau máximo daquela palavra enfadonha. Ando Meio Desligado deve ter tido um arranjo de encerramento do mesmo tamanho da música, pra mim, um porre de desarranjo.

Ah, a percussionista Simone Soul, toca muito, parece uma figura saída de um local sombrio, seus arranjos deram novo corpo às velhas canções. Aqui, agora é sério, uma das coisas mais interessantes neste tipo de show é você olhar pro seu lado (principalmente se você está perto do palco) e ver os ataques de histeria das pessoas parecendo que estão no melhor show de sua vida. Demais essa sensação do público, que raramente um fotógrafo tem interesse em registrar.

Teve ponto alto? Tiveram vários, eu mesmo curti demais A Hora E A Vez Do Cabelo Nascer e os momentos mais agitados. Dois Mil e Um, Top Top e Bat Macumba, esta já no bis. Acho que pro público, o clímax foi em Balada do Louco, corrijam-me se eu estiver errado.

E quanto à maior incógnita dessa nova formação? Bem Zélio Duncan (nada contra sua orientação sexual, se esta já saiu da armário, também não me interessa), com sua voz grave se sai bem nos momentos que a voz precisa de força e até mesmo pra agitar a turba, mas quando o negócio é doçura, acho que o Max Cavalera ganha. Foram poucos o momentos que essa sensibilidade foi exigida, mas a banda acabou perdendo uma faceta poderosa de suas canções.

O show terminou com Panis et Circensis, que, não sei de onde eu tirei isso, mas no final achei que rolou um arranjo á lá Bolero de Ravel nas tais viagens virtuosas deles, dessa vez suportável.

crédito da foto: Haroldo Kennedy
resenha originalmente postada no Lastfm do Jão