segunda-feira, 10 de setembro de 2007

5 Inspiradores de Palavras

O Toledão, apesar de nem avisar que mudou de endereço, foi quem me convidou a fazer isto e topei. 5 obras que influenciaram a minha vida, por ordem do que descobri primeiro;

Considerado um dos textos mais bem escritos do século XX, Cem Anos de Solidão foi o livro que me trouxe a leitura, quando eu ainda vivia na roça e nem pensava em ler algo que não fosse quadrinhos. É chover no molhado ficar falando da obra, mas, em suma, é a história de um povoado fictício da Colômbia, chamado Macondo. Que na verdade é uma releitura da terra natal de Gabriel Garcia Marquez, Aracataca. Lembro-me de ter lido que ele foi processado por uma tradicional família de lá, pelo fato de estar contando as histórias de um amigo de infância dele e perdeu o processo. Daí, a bíblia ganhou esse irmão louco.


Ganhei Pan América de aniversário em 2002. Foi minha introdução à literatura sem muitos limites de costumes. O considero uma máquina de incitar doido dormente a pirar de vez. O autor José Agrippino de Paula mesmo, morreu há pouco tempo, com a cabeça em 1968, ano do lançamento deste clássico tropicalista. Tem gente que não consegue ler faltando cinco páginas pra terminar esta história que não tem parágrafo, da qual o personagem central se transmuta em cineastas, atores e guerilheiros andando pelo nonsense. Lembro de Caetano Veloso falando que é a Odisséia de Homero na voz de Max Cavalera, mas é muito melhor que isso.


Este livro inspirou algumas façanhas mirabolantes nessa vida errante que levo. CAOS - Terrorismo Poético & Outros Crimes Exemplares foi escrito pelo fictício Hakim Bey, alcunha anônima de Peter Lamborn Wilson, prolífico escritor de histórias fantásticas que misturam fatos reais, ficção, política e religiões orientais de uma maneira bem fantasiosa. Mistura de texto engajado com poesia na medida certa, não é um livro pra ler com a cabeça quente e muito menos pra ser levado a sério. Pra quem não está acostumado, existem uns ranços de erudição exacerbada na prosa do escritor, o que não chega a incomodar o desenvolvimento da idéia central (se é que ela existe).


Sem Logo - A Tirania das Marcas Num Planeta Vendido é a mais pura contestação social surgida nos últimos anos, em minha modesta opinião. Juntando seu apurado faro com uma mirabolante gana e pesquisa jornalística, a canadense Naomi Klein teceu um brilhante mosaico de notícias, onde encontramos desde os pequenos deslizes aos grandes erros das grandes multinacionais do planeta. Propaganda, trabalho escravo, ecologia, protestos. Nada passa despercebido ao aguçado sentido de contestação da escritora. E sem precisar se passar por fundamentalismo esquerdista rasteiro.


Nada dá mais prazer em trabalhar numa pesquisa do que ler um livro prazeroso. Explico. Como a maioria de meus amigos sabem, desde o princípio de 2006, venho trabalhando na pesquisa sobre a vida de Joaquim Rolla. Quando peguei o livro de Carmen pra ler, não consegui largar. E olha que ele tem mais de 500 páginas. Tudo bem que as letras são grandes, mas nada como uma leitura bem construída e envolvente, num tema fascinante. No caso, o cenário é o Rio de Janeiro das décadas de 1910 a 1930, passando por Hollywood, na fase que a a pequena notável ficou mundialmente conhecida até desfalecer depois de se acabar em anfetaminas. Parabéns Ruy Castro.

Agora convido o Renato Negrão, o Bill, Higienezê e o Rafael a repetirem a dose em suas medidas.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Não Vou Mais Esperar

Sou um mineiro que mal conhece a música feita no meu estado, apesar de viver aqui desde que nasci. Acho o Clube da Esquina melancólico demais, as bandas famosas aqui das alterosas me soam excessivamente oportunistas, simpatiquinhas demais ou simplesmente as desconheço, apesar de fazerem grande sucesso no país.

Aconteceram com poucos sons que conheci, eu tomar contato pela primeira vez e gostar. Foi o caso desta banda com nome de uma atriz italiana. A primeira vez que os vi/ouvi foi num programa do tipo democlips, com um riff que me contagiou logo de cara, da canção Esperar o Quê?. Naquela época, eu morava na roça e mal tinha vontade de comprar um disco de vinil, ainda mais aquele, que era de uma gravadora independente.

Algum tempo depois, no inverno de 1995, acontecia na cidade de Nova Era, bem ao lado de onde morava, um festival de música anual e naquele ano tinha um monte de banda 'pesada'. A mais 'paulêra' delas, tocou numa quinta-feira pra inaugurar o festival. Daí, eu, com 17 anos, roubei a moto do meu irmão (com uma lanterna improvisada no farol) e fui ver o show, que não tinha mais do que 20 pagantes. O show foi até legal, mas de tanto as pessoas ao meu redor reclamarem, achei que pudesse ser um pouco pior do que eu imaginava. Final de show, o pequeno público saiu dali reclamando marimbondo e eu, como gostava de um barulho, não entendi nada. Fiquei incomodado de ter sido o único ali a gostar.

Poucos meses depois, no dia 2 de setembro de 1995, mais uma vez escondido da família, fui "passar o fim de semana" em Belo Horizonte. Na verdade, depois de sonegar uma certa mesada, eu tinha era ido a um mega-festival de rock em São Paulo, o Monsters of Rock, que tinha nada menos que Ozzy Osbourne, Faith no More, um monte de bandas e...Virna Lisi, que àquela época tinha lançado seu segundo disco, O Que Diriam os Vizinhos, com influências de congado, samba e violas bem naquele período em que havia uma onda de mesclar o rock a ritmos brasileiros, coisa que os roqueiros mais radicais não perdoam. Eles só não foram vaiados naquele show predominantemente metaleiro pelo fato de terem chamado o baterista Igor Cavalera para tocar percussão no hit deles, Eu Quero Essa Mulher (cover de Monsueto Menezes). Interessante notar que o público desses dois shows que eu fui deles neste curto períoco devem ter sido o menor e o maior de toda história da banda.

A derradeira obra do Virna Lisi viria no ano seguinte, com nome escalafobético e produção caprichada do ex-Legião Urbana (eca!) Dado Vila-Lobos. Se Desce A Lona Vira Circo, se Cerca Vira Hospício é um álbum caprichoso com arranjos de violinos, violoncelos e percussões fantásticas. Tem a fenomenal Eu Vou te Mostrar, que teve um belo videoclip caprichado á la Smashing Pumpkins. Mas o disco, que tem sua capa ilustrando estes devaneios, não vendeu porra nenhuma e a banda, que esperava ser um grande sucesso acabou antes da hora. Pra fazer esse texto, vi gente falando que não gostava deles, mas ficou assustado de ver como algo de tanto talento se expirasse tão rápido. Ao menos nos deixaram essas grandes obras e um legado que influencia muita gente. Tem pra baixar aí na net, facinho, eu mesmo peguei os três discos e até mesmo o hino do Cruzeiro.

Os ex-integrantes da banda ainda hoje circulam pelo meio musical, e têm seus respectivos projetos; Ronaldo Gino faz trilhas sonoras para filmes e comerciais e Marcelo de Paula tem sua própria banda. Já o ex-vocalista César Maurício, faz video-arte, compõe música pra gente famosa e já fez até umas parcerias com o Lô Borges. O que fica é a atitude e o som desta banda que não se preocupava com rótulos e marcou a história da música independente do Brasil com muita criatividade e talento.