terça-feira, 24 de novembro de 2009

Vai Costurar Seu Parangolé!


Hélio querido, nessa véspera de Finados está triste porque queimaram os seus parangolés? Aposto que nem tanto. Ontem assisti o documentário Hélio Oiticica, ou H.O. (1979), de Ivan Cardoso. Depois da cena em que um sujeito vestindo sunga e parangolé se movimenta ao som de Simpathy for the Devil, dos Stones, Décio Pignatári narra: "O parangolé não era assim como uma coisa para ser posta no corpo e para ser exibida. A experiência da pessoa que veste, da pessoa que está fora vendo a outra vestir ou das que vestem simultaneamente a coisa são experiências simultâneas, são multiexperiências. Não se trata assim do corpo como suporte da obra, pelo contrário, é total incorporação. É a incorporação do corpo na obra e da obra no corpo".

É grave ver pelo menos mil obras do maior artista brasileiro do século 20 (foi divulgado que 70% serão recuperadas) irem para o saco, mas soa mercadológico tratar especialmente o trabalho de Hélio como se fosse a obra de um pintor ou escultor. "Trataram o Hélio com se fosse um artista renascentista, quando ele foi um criador de conceitos, de propostas, de intervenções, um artista do futuro, não de um passado neoconcreto, que ficou lá atrás [...]", disse Neville de Almeida, parceiro de Hélio em obras como "Cosmococa", ao jornal O Estado de São Paulo. "A destruição física das obras não significa, no caso de Oiticica, o fim desse trabalho, até mesmo porque ele via a atividade artística como uma atividade poética", completa o crítico francês Guy Brett . "Acho sintomático que a primeira informação logo após o incêndio tenha sido o valor dos prejuízos, em torno de US$ 200 milhões, como se o Oiticica fosse uma fábrica", finaliza o galerista Paulo Kuscinsky ao mesmo jornal.

Não fecho os olhos para esse churrasco. É uma grande perda. Claro. Mas, queimou, valorizou. Como bem sabe o mercado da arte. Portanto, vou é construir meu próprio parangolé e incorporar a obra, como propõe Hélio. Abaixo, o imperdível vídeo de Ivan Cardoso com participação de Caetano Veloso e Lygia Clark (repare nos figurinos e na calça de Jaspion de Oiticica no final da parte 2). Abaixo, também, o modelo de dois parangolés para quem quiser costurar um parangolé sob medida e eternizar a proposta de Oiticica.

H.O., de Ivan Cardoso (1979)


Belo texto de Luara Calvi Anic, do aparedelaranja, ex-livreira que indica: Hélio Oiticica - Qual é o Parangolé e Outros Escritos, de Waly Salomão (editora Rocco)


quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Rolos de Gonzologia Rapeiros


Um dos tipos profissionais mais maçantes de pessoas costumam ser os jornalistas (alô médicos, advogados etc). Feio ficar falando mal de profissão, ainda mais quando me refiro à minha própria - ou daquelas que um dia precisarei (precisei). Que lero-lero esse, pois eu só queria puxar o assunto pra falar de um jornalista, o finado Hunther S. Thompson (ou, como ele se atodenominava, Gonzo).

O sujeito era mestre em soltar opiniões atravessadas em grandes veículos da mídia americana e chegou até a abalar canditaturas de presidenciáveis e sua birra com Richard Nixon ajudou a abalar o prestígio do mandante de Watergate. Tudo isso era foguetado durante seu amor por substâncias químicas das mais diversas ("O éter é o maior perigo do homem"). Enquanto ainda tava vivo, Mr. Gonzo foi interpretado por dois grandes astros do cinema, Bill Murray (Uma Espécie Em Extinção) e Johnny Depp (Medo E Delírio).

E ele nem ficou famoso por causa disso. Sua abordagem politicamente incorreta em opiniões vinda da convivência com Hell's Angels, mexicanos ensandecidos ou brasileiros que o ligavam no meio da madrugada (o sujeito morou no Rio de Janeiro em 1962) ajudaram a forjar seu caráter. Thompson sabia fazer o meio de campo com artigos contundentes descendo a lenha em todo tipo de burrocracia, fosse ela vinda da direita ou da esquerda.

No fim da vida, antes de se auto suicidar-se a si mesmo com sua garrucha, estava numa fase decadente, escrevendo artigos esportivos pra ESPN. E isso ainda não é o fim, pois o rapper gonzo GNZ descolou uns amigos pelo mundo e gravou um disco temático sobre Hunther Thompson.

Chama Gonzo Tape e tem pra baixar aqui. A bolacha foi produzida pelo DJ Hellbound (Bélgica), som muito plural que conta com participações do mexicano Jotaka e dos americanos Rob D. & Mr. Pen.

Confira o videoclip de White Rabbit:



segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Faith No More - Sotaque Paraguaio e Ismar

Na onda da re-animação de bandas outrora terminadas, passaram grandes nomes do rock pelas maiores cidades do Brasil neste último fim de semana.

Em São Paulo ocorreram shows de Iggy Pop & The Stooges e Sonic Youth ao mesmo tempo que acontecia o Deftones e Jane's Addiction. No Curral del Rey, nenhuma destas veio, mas apareceu outro conjunto que lá estava e tem mais apelo com o público por aqui, mesmo sem lançar nada novo há mais de dez anos - o Faith No More. E parece que não é só pelos lados de cá, afinal fãs de algum país latino estenderam uma faixa em frente ao palco - gente que vai a todos os shows da turnê.

O Chega de Fé quis criar buxixo até mesmo em Belo Horizonte (pra vender ingresso pra 3.000 pessoas?) ao divulgar uma lista com suas exigências para tocar na cidade nessa turnê "The Second Coming":
- 12 Kinder Ovos;
- Meias pretas e brancas;
- Uma garrafa de mel orgânico;
- Frutas regionais e comidas locais;
- 2 pacotes de Baby Wipes (lenços umedecidos);
- Uma lista com todos os bordéis nas redondezas;
- Jornais internacionais (New York Times e The Sun, entre outros);
- Revistas pornôs - heterossexuais e gays

Mike Patton e sua trupe vieram a BH depois de 17 anos sem tocar nessa roça (14 no Brasil) e apresentaram um set pra agradar quem fosse ao show, fosse fã ou não - de Ricochet a Epic, não faltou um hit. Covers foram a introdução instrumental de Midnight Cowboy (vide vídeo logo abaixo), a 'nãopodia faltar pros fãs FM' Easy e um enxerto de Ela É Carioca na bossa nova deles, Caralho Voador - que o público vaiou. E com pura liberdade de zoar o que não gostou, pois ninguém saiu reclamando.


Pelo fato de se dirigir à platéia num português razoável e proferir animados palavrões em nossa língua; "Porra, caralho!", o vocalista-empresário e proprietário das 1000 vozes tinha o público na mão. Mesmo assim acabou bancando o paraguaio e arranhou portunhol na letra de Evidence (a música já havia sido gravada pela banda completamente em português, numa rádio brasileira em 1995). Aqui a versão do dia que pisaram na bandeira do Galo (verdade? nem vi isso):


No meio da tensa Midlife Crisis a banda pára tudo e num bate papo-informal, a platéia é provocada com um; "Vocês querem Madonna? Like a Virgin?" E volta pra pauleira pra terminar o rapcore das antigas.

Sem falar que ao sair do show, pra completar a sessão revival 90s, caminhando em direção ao cachorro quente mais próximo, sai um bando de gente no encalço do passo da lenda Ismar - eu tinha ouvido falar que ela nem viva tava mais. Até que um louco a chama de Tomate, provocando a amiga do Sepultura a correr e gritar pela Avenida do Contorno ver se vai ser convidada pro próximo show...

Set list do Faith no More em Belo Horizonte em 8 de novembro de 2009 - mais ou menos isso:

01) Midnight Cowboy (John Barry cover - instrumental)
02) The Real Thing
03) Land of Sunshine
04) Caffeine
05) Evidence (portunhol)
06) Surprise! You're Dead
07) Last Cup Of Sorrow
08) Ricochet
09) Easy (Commodores cover)
10) Epic
11) Midlife Crisis
12) Caralho Voador / Ela É Carioca
13) The Gentle Art of Making Enemies
14) King for a Day
15) Ashes to Ashes
16) Just a Man

bis:

17) Charriots of Fire/ Stripsearch
18) Mark Bowen