sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Batidas Beatificadas

Há alguns anos o professor de fotografia Rui Cezar sugeriu aos seus maus alunos que não quisessem tomar recuperação final para fazer um trabalho paralelo que até hoje não esqueço. Com o passar do tempo, acabei mergulhando naquele tema, sobre um movimento ligeiramente desconhecido ou visto com maus olhos pela maioria das pessoas. E se uma grande porção de mitos beberam na fonte deles, os Beatniks, algo de bom deve ter saído dali.

A palavra batida possui várias conotações na língua portuguesa. Pode designar ritmo musical, colisão automobilística, coisa ultrapassada, coquetel alcoólico, comida, montaria, uma diligência policial em local suspeito ou um rastro (no mato). No caso da sua correspondente em inglês, beat, que também é cheia de sentidos e pode ser entendida musicalmente falando, além de ser muito empregada para designar algo como um 'cara batido', 'escória' etc.


No ano de 1948, o escritor Jack Kerouac enxergou na palavra beat o termo latim correspondente a beatitude e cerca de dez anos depois a estrutura dos costumes ocidentais já não era a mesma, meio que influenciada por isso. Após a consolidação do best-seller Pé na Estrada (mais conhecido como On The Road), escrito durante uma semana sob intensas doses de efedrina por Kerouac, ocorreu uma busca individualista em não se encaixar mais sob o sonho do american way of life.

Paulatinamente o grupo de escritores amigos de Kerouac, já denominados Geração Beat, alimentou a incitação pra que cada indivíduo deixe de lado seus desejos consumistas, expondo as veias endinheiradas da América. Claro que em pleno período de caça às bruxas, foram acusados de comunistas, porém, como a maioria deles era apolítico ao extremo, logo espantaram as acusações cegas dos políticos conservadores adeptos do movimento Macartista pras cucuias.

Diversos autores, como o poeta Allen Ginsberg ou o relator drogadicto Willian Burroughs eram colocados como personagens (sempre com nomes fictícios) nos livros de Kerouac. Logo foram se tornando respeitados pela sua facilidade em levantar a discussão sobre diversos temas polêmicos ou vanguardistas. Desde ecologia, budismo, literatura oriental, banditismo, legalização das drogas, aborto, liberdade sexual e outros tabus dos quais hippies e punks levantariam bandeira nas décadas seguintes. Se formos considerá-los como a primeira subcultura de massa do planeta também não estamos falando mentira.

No fim da década de 1950, o movimento foi de beat pra beatnik e concretizou-se como um sucesso na grande mídia. O sufixo 'nik' vem da paranóia americana com os costumes que os beats amalucados escancaravam, tão forte como o recém-lançado (naquela época) satélite russo Sputnik, o primeiro a circundar a esfera do planeta.

No fim das contas, até havia uma relação do movimento com o fotógrafo suíço radicado nos Estados Unidos, Robert Frank, mas aí já é outra história. Assim como dizer quem foram os músicos, artistas e cineastas que piraram na fórmula beatífica dos beats.


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