Hélio querido, nessa véspera de Finados está triste porque queimaram os seus parangolés? Aposto que nem tanto. Ontem assisti o documentário Hélio Oiticica, ou H.O. (1979), de Ivan Cardoso. Depois da cena em que um sujeito vestindo sunga e parangolé se movimenta ao som de Simpathy for the Devil, dos Stones, Décio Pignatári narra: "O parangolé não era assim como uma coisa para ser posta no corpo e para ser exibida. A experiência da pessoa que veste, da pessoa que está fora vendo a outra vestir ou das que vestem simultaneamente a coisa são experiências simultâneas, são multiexperiências. Não se trata assim do corpo como suporte da obra, pelo contrário, é total incorporação. É a incorporação do corpo na obra e da obra no corpo".
É grave ver pelo menos mil obras do maior artista brasileiro do século 20 (foi divulgado que 70% serão recuperadas) irem para o saco, mas soa mercadológico tratar especialmente o trabalho de Hélio como se fosse a obra de um pintor ou escultor. "Trataram o Hélio com se fosse um artista renascentista, quando ele foi um criador de conceitos, de propostas, de intervenções, um artista do futuro, não de um passado neoconcreto, que ficou lá atrás [...]", disse Neville de Almeida, parceiro de Hélio em obras como "Cosmococa", ao jornal O Estado de São Paulo. "A destruição física das obras não significa, no caso de Oiticica, o fim desse trabalho, até mesmo porque ele via a atividade artística como uma atividade poética", completa o crítico francês Guy Brett . "Acho sintomático que a primeira informação logo após o incêndio tenha sido o valor dos prejuízos, em torno de US$ 200 milhões, como se o Oiticica fosse uma fábrica", finaliza o galerista Paulo Kuscinsky ao mesmo jornal.
Não fecho os olhos para esse churrasco. É uma grande perda. Claro. Mas, queimou, valorizou. Como bem sabe o mercado da arte. Portanto, vou é construir meu próprio parangolé e incorporar a obra, como propõe Hélio. Abaixo, o imperdível vídeo de Ivan Cardoso com participação de Caetano Veloso e Lygia Clark (repare nos figurinos e na calça de Jaspion de Oiticica no final da parte 2). Abaixo, também, o modelo de dois parangolés para quem quiser costurar um parangolé sob medida e eternizar a proposta de Oiticica.
H.O., de Ivan Cardoso (1979)
Belo texto de Luara Calvi Anic, do aparedelaranja, ex-livreira que indica: Hélio Oiticica - Qual é o Parangolé e Outros Escritos, de Waly Salomão (editora Rocco)
2 comentários:
Oi,"Canhota".
Bacana que gostou do texto e acionou o "ctrl C/Ctrl V"! Mas vamos combinar que bom mesmo é o documentário do Ivan Cardoso.
Abraço!
Luara
Valeu pelo texto e pelo link, mto bom o blog da Luara.
E pela imagem Churrascoiticica! Demorou para postar isso ai !!!
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