quinta-feira, 18 de março de 2010

A Praia da Estação Recebe o Outono Fervendo

Desde meados de janeiro de 2010, durantes todas as tardes de sábado, Belo Horizonte assiste a uma das mais relevantes e originais ações de retomada do espaço urbano por um público sem rosto e cheio de vontade.


Após a eleição de 2008 e a ultrajante lavação de roupa suja em horário eleitoral sem precedentes na televisão - vide chute no traseiro e interferência daquele publicitário maquiavélico produzindo o comediante Tom Cavalcanti - o povo do Curral Del Rey assiste estupefato às ações do prefeito Márcio Lacerda. O nome de consenso escolhido pela inédita coligação numa capital brasileira entre PT e PSDB assumiu a prefeitura da cidade em 2009 minguando as verbas para a área cultural da capital mineira e fechou o ano com um veto a eventos de qualquer natureza numa das maiores praças da cidade - a Praça da Estação.


foto: Tamás

Acredito que a população nem tinha como esperar demais do senhor Márcio Lacerda, porém assistir ao senhor prefeito tirar o uso de um espaço público pelo poder do veto foi realmente nauseante. Estranho que desta forma, a autoridade citada passou por cima até mesmo da lei de uso do local, que sempre foi direito da população desde que a cidade fora criada, além do quê a Praça da Estação ganhou até um tal de boulevard fazem poucos anos.

Há males que vêm para o bem. E uns gatos pingados inconformados, através de redes sociais pela internet, começaram a se organizar para reclamar do acontecido. Tudo começou com um tímido passeio Vá de Branco pela Praça da Estação, porém a onda deu caldo mesmo foi com outra idéia esperta, referência a algo que o mineirinho mais sente falta na cidade - e não vai ser resolvido por político algum - a criação da Praia da Estação. O calor foi um norte, colocar o povo de sunga no centrão uma vontade escondida pra tirar a roupa no maior plano panóptico por onde trafega a tradicional família come-quieta.


Até quando o enobrecimento forçado do espaço público central de Belo Horizonte suportará o peso da vontade de uma dondoca que controla secretarias de turismo, cultura e até mesmo um bom bolo de nossas verbas museológicas?

Parece que o fato tornou-se uma pedra no sapato do político que este ano vai assistir de braços cruzados ao lançamento de candidaturas-nada-surpresa para o estado e para o Brasil tucano-petista. Ou seja, algum deles vai convidar esse candidato fabricado pra subir no palanque e perder voto? Páreo mole.


Engraçado que grande parte dos manifestantes nem vota - muitos nunca exercerão este ato na vida - e como considerá-los apolíticos? O bojo que a imprensa considera mera massa de esquerda festiva ultrapassou idade, orientação política e credo.

E agora, Ministério Público, algum promotor competente se habilita para poder encarar uma boa briga numa luta justa?


foto: Tamás


Relevante notar que no último dia 6 de março aconteceria na Praça da Estação um evento com as bandas U (U com trema, não achei a trema aqui no teclado agora), Graveola e o Lixo Polifônico, Dead Lovers e outras, que foi forçado pela Guarda Metropolitana de Belo Horizonte a ocorrer debaixo do Viaduto Santa Tereza. Tudo bem, as pessoas invadiram a Avenida dos Andradas pacificamente e o show ocorreu sem transtornos. Só que uma semana depois a própria prefeitura montou uma mega-estrutura na Praça da Estação para que no dia 14 de março ocorresse um evento que - no atual contexto - pode ser entendido como de caráter eleitoreiro, a Maratona Linha Verde. Com palco, gerador, banheiros químicos, a população flutuante desinformada que ali chegasse, mal saberia que ali no mesmo local ocorre uma censura velada ao direito de se expressar. E agora, vamos esperar o tsunami?

Taí o funk universitário feito pelo pessoal do Graveola - bem que as outras bandas da cidade podiam fazer uma coletânea com umas músicas sobre esse protesto. E deita no cimento:


Obrigado a Omar Motta pela inspiração.

3 comentários:

Anônimo disse...

Enquanto a gente quiser fazer praia em BH, a praia continua. Sabado a gente se ve por la...

luizgabriel.lopes disse...

deita no cimento!

Raquel Setz disse...

Eita... não é só em São Paulo que virou a ideia de que "político bom é político que proíbe".

Vida longa à praia mineira!!