Quando ajudei a organizar o Kréu Krio no Mercado Novo em 2008, durante uma semana, frequentei o terceiro andar do prédio, onde pude experienciar a efervescência de um espaço que os frequentadores de shopping center nem imaginam que poderia haver em Belo Horizonte – a Loja Grátis.
Foi muito rico quando eu, que estava ali no intuito de poder trocar idéia sobre movimentos alternativos e explicar o que era nossa proposta com o Kréu Krio, passei boa parte do tempo explicando do que se tratava para quem passava por ali e convidando para conhecer nossa exposição ou até mesmo a tal Loja Grátis – que foi a experiência mais bacana de algo que já acontecia por lá e que pude absorver para vida.
Relatava a quem chegava lá, curioso da proposta da loja que não vendia nada, que qualquer um poderia pegar qualquer coisa (no máximo três peças) e que não necessariamente era obrigado a deixar alguma coisa lá naquele momento. Cada um tinha uma reação, uns ficavam com receio, outros pediam para levar mais do que três coisas e todo mundo que levava algo, saía de lá prometendo que iria deixar umas coisas velhas lá outro dia – e não que eu estivesse cobrando isto, era apenas uma explicaçãOs trabalhadores daquele andar (em sua maioria serralheiros, muito atenciosos e solícitos) e habitués do local, sempre que podiam, passavam por ali e levavam coisas para si próprios ou seus familiares. E traziam desde discos de vinil até sucata tecnológica – passando por roupas, livros, filmes VHS e até mesmo pílula do dia seguinte.
Conversando com a empolgada participante do Kaza Vazia e do Vacas Magras, a artista plástica Júnia May, tive o relato de uma ação denominada Trocaria & Permutaria, que ela promoveu durante o Kaza Vazia no Mercado Novo no início de 2008, antes mesmo da existência Loja Grátis. Tive sensação de que mesmo indiretamente, essa Trocaria & Permutaria pudesse ter influenciado o que aconteceria lá poucos meses depois. Num local relativamente abandonado pela ação do tempo e do pós-capitalismo, para Júnia e o pessoal anarquista, foi natural criar um espaço com esse caráter na mesma época. E essa não é a primeira tentativa de re-ativar o local, pois aconteceu ali um evento em prol da Loja Grátis em maio de 2009, que infelizmente não vingou, apesar de ter sido bem bacana.
Trocaria & Permutaria + Loja Grátis, juntas
Pedi a May que me enviasse um texto que explicasse o que era isso. Ela me enviou e considerei o texto bem relevante:
“Na prática, é uma feira de trocas aberta a todos que desejam intercambiar objetos, serviços, conhecimento, arte, enfim, a todo tipo de intercâmbio que substitui o dinheiro, permitindo, ao cidadão comum, acesso a uma grande variedade de produtos e serviços. Promovendo a circulação de valores, ao invés de papel moeda, a TROCARIA & PERMUTARIA incita a substituição da acumulação e do lucro por solidariedade e cooperação, por meio da valorização do trabalho, do saber e da criatividade humana em detrimento do capital e sua propriedade. É prática de adaptação a nova consciência econômica que ganha terreno: a economia ética ou Ethonomia.“
E segundo Çtalker, “trocaria é um tempo futuro do pretérito, comércio hermético e hermenêutico sem espaço para plutocracia. Hermético por levar os trocantes a compreender o sentido do valor e de seus valores, quando eles são confrontados com os dos outros. Hermético porque cada troca surge da singularidade de seu próprio sentido, na frágil e fugaz equivalência entre diferenças. Futuro porque projeta uma economia sem fetiches de abstração de tempo de vida. Pretérito porque redime todas as economias tradicionais arrasadas pela violência do ocidente. A Trocaria & Permutaria é experiência vivida sem troco.”
Daí, como no próprio site da Loja Grátis, diz:
“Devido a vários fatores de organização, envolvimento, tempo e estrutura, @s envolvid@s e interessad@s decidimos fechar o Espaço de Convivencia Loja Grátis de Belo Horizonte. Já a algum tempo, ele tem tido muito pouco movimento, poucas propostas e projetos no espaço e, tambem por vários fatores, pouco envolvimento de pessoas.”
Então, ‘bora manter no Mercado Novo um lugar irradiando boas experiências? Nem que seja por uma tarde… Leve sua roupa velha, que pra maioria ainda é utilizável, um videogame que ninguém mais joga, a coleção de fitas cassette do seu velho, e volte com algo que você precisa e nem sabia, nem que seja ver isto acontecendo.
4 comentários:
Posso levar DVDs alternativos de fácil acesso à população proletária?
Vá pra puta que o pariu
adorei o seu blog fala sobra varios assuntos englobando a musica eu estou començando um blog gethitmusical.wordpress.com entra lá e confere.
como faço para entrar em contato? eu estou estudando a revitalização do mercado novo. lima.oscar@gmail.com
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