Hoje em dia há um novo tipo de música brasileira em voga no mundo. Aquela que não é feita por gente daqui, ou aqui. Isso mesmo, ao contrário do que acontecia há 20 anos atrás, hoje em dia são as bandas estrangeiras que produzem material inspirado em nossa sonoridade. Aquela batucada e violada mesmo, que muita gente nunca deu muito valor. Não que a babação de ovo que críticos estrangeiros estão dando a nós seja a coisa mais fantástica da história da MPB, o negócio é que faz um tempo que observo nossas influências lá fora. E resolvi debruçar sobre aquilo tudo que ouvi falar, pois poderia desenvolver um texto daqueles que gostaria de ler.
Até onde eu sei nosso som foi pra vitrine quando Carmen Miranda seguiu pra viver em Hollywood e gravou diversos sambas brasileiros em formato pasteurizado. Ela influenciou o maior cantor americano das décadas de 1930 e 1940, Bing Crosby,a gravar Na Baixa do Sapateiro, de Ary Barroso (obviamente a versão era cantada em inglês). Depois, já na década de1960, Tom Jobim ladeou Frank Sinatra por uma turnê em que o cantor do século cantou sucessos bossanovísticos, resultando num álbum de grande sucesso, Francis Albert Sinatra & Antônio Carlos Jobim.
Durantes as décadas de 1960 e 1970 o registro mais evidente que eu tenho de outros povos bebendo na nossa fonte é através do multifacetado artista francês Serge Gainsbourg, numa exaltação ao maior poeta maldito de seu povo, Baudelaire. Já nos fins do século XX, a engajada banda de ragga Fabulous Troubadors, também vinda da terra de Asterix apareceu com o CD On The Linha Imaginot, citando Maria Bonita e fazendo dueto com um coro nordestino no improvável forragga Cançon de la Prima. Porém, ao citar estes galícios engajados, não poderia deixar de citar o Massilia Sound System uma das mais tradicionais bandas de raggamufin de seu país, que em 2002, quando estavam pesquisando a origem dos trovadores franceses e seu legado, descobriram no nordeste brasileiro os últimos herdeiros dos bardos medievais - os repentistas - resultando no magistral album Occitanista, que conta com a participação de Lenine e Nação Zumbi. Mas de todos esses franceses que fizeram música brasileira de alguma maneira, aqui, o mais famoso deles, sem dúvida, é Manu Chao, que em certo momento de sua vida, chegou a viver em algumas cidades brasileiras. Um de seus maiores sucessos é cantado em português, e já foi até gravada pelo mundo livre s/a, a descolada Minha Galera.
Engraçado que hoje em dia, até brasileiro que vai morar na Gringolândia vira gringo. Como assim? Este é o caso dos imigrantes brasucas radicados em Nova Iorque e seu guitarrista ianque, membros do Forró in the Dark, que após fazerem sucesso sem querer na Big Apple, foram apadrinhados pelo quase-brasileiro David Byrne, que cantou duas músicas no album deles. A ex-integrante da banda Cibo Matto, Miho Hatari, também participa numa versão em japonês do clássico de Gonzagão, Paraíba.
Lembrei quando em mil novecentos e noventa e poucos, o Paul Simon apresentou o Olodum pro mundo num videoclip gravado no Pelourinho, como se a música brasileira fosse a salvação do mundo. Hoje em dia a cada piscada, aparece mais uma dessas bandas de world music gringas, que chegam aqui e saem recrutando percussionista brasileiro pra dar uma sonoridade 'tropical' ao seu som. Isso é bom? Só sei que quem recrutou o mesmo Olodum como decoração e veio aqui pra aproveitar de nossa imagem foi o Michael Jackson, que subiu o morro do Santa Marta na gravação de seu videolip-denúncia-social (hahaha) e ainda conseguiu fazer o Marcinho VP ficar famoso.
Já Mike Patton, conheceu a glória quando cantava com o Faith No More aqui por nossas plagas antes mesmo deles serem famosos em sua própria terra, o que pode ter influenciado-os a gravar em seu penúltimo disco a bossanova com refrão em 'portosquês', Caralho Voador. Depois houveram flertes dos outros projetos do senhor 10.000 vozes com nossa sonoridade, desde a balada-tosca Desastre Natural, do Tomahawk, ao bom gosto do trip-bossa Caipirinha, em que faz dueto com a onipresente Bebel Gilberto no recente Peeping Tom. Desse tipo de parceria de nomes estabelecidos do hemisfério norte com brasileiros, não poderia deixar de esquecer do Asian Dub Foundation, que após passarem pelo Brasil em 2001, firmaram parceria com Edy Rock, dos Racionais MC's e fizeram um som tipicamente deles em 19 Rebellions, com letra denunciando o massacre dos 111 presos executados no Carandiru, escrita pelo rapper Gog.
Nem mesmo o movimento pernambucano Manguebeat deixou de ter seus seguidores pelos mares do mundo, como é o caso dos escoceses não bem-sucedidos do Bloco Vomit, que homenageiam o ídolo Chico Science e tocam canções notórias do punk rock em ritmo de maracatu e até de axé, como é o caso de Shoul I Stay or Should I Go, do The Clash. Já o Nation Beat, era uma banda maracatu de Nova Iorque que veio para o Brasil e gravou um disco com misturas de country, jazz, côco e música regional e é recheado de convidados pernambucanos (vale a pena baixar o disco, neste link com o nome da banda tem um artigo sobre a banda com o download do único abum deles). Tava falando dos covers maracapunks meio de mau gosto, agora, digo dos covers de bom gosto dos franceses Nouvelle Vague, que relêm clássicos do rock dos anos 1970/80 em ritmo de bossa nova.
(continua, pois faltou falar de rap, jazz, outras bandas européias e mais qualquer coisa que você pode sugerir).
6 comentários:
cheguei aqui meio que por acaso, via Technorati, porque vi o link para o Meio Desligado e fiquei curioso.
logo que vi a imagem na entrada pensei "opa, deve ser coisa boa!". E não me enganei.
Se continuar assim, vai ser muito fodão!
putz! qta informação!
to escutando aqui o massila, não sabia que era tão bom! bom mesmo...
uai Marcelo, deixa link do seu brog aí pra noses.
Devidamente adicionado nos favoritos.
Anotando pra baixar, anotando pra baixar, anotando pra baixar... :-)>
"não poderia deixar de esquecer do Asian Dub Foundation", se vc não deixa de esquecer de algo é porque vc vai esquecer... ehehhehe... só um lembrete aí... vc deveria não se esquecer, ou não deixar de lembrar... hehehehe
falou
Freddy
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