sexta-feira, 7 de maio de 2010


Colocar uma imagem na rede ou postar qualquer texto pela internet é uma tarefa corriqueira no cotidiano de qualquer pessoa hoje em dia. A partir do ponto em que há uma facilidade plena pra criar um endereço próprio - num blog ou algo do tipo - qualquer um está apto a fazer sua participação no mundo on-line de forma concreta e ter certo respaldo, desde que tenha algo a dizer.

Mas nem sempre houve uma terra de ninguém prática e barata como a internet para apresentação de idéias livres. Houve um tempo que fazer qualquer produção em papel era uma coisa de outro mundo. Na época do mimeógrafo e logo depois, do xerox, quem estava afim de mostrar o que pensa numa publicação caseira de papel, tinha que se virar. E o meio mais prático de se fazer isto, era numa mídia que pouca gente até hoje nem sabe o que é, o fanzine.

Quem me lê contando sobre esse tema e já tem estrada no assunto deve achar que digo isto como uma velha novidade requentada. Mas não, mesmo tendo feito um projeto experimental como conclusão de curso (TCC) em comunicação social em 2004 junto de meus amigos Daniel, Karl e Rodrigo, ainda hoje me assusto como diversas pessoas esclarecidas que nunca ouviram falar no termo. O tal caderninho montado a partir de textos, imagens ou poemas diversos com um tema específico - ou bem variado quese tornou mais raro a partir da facilidade de informação on-line.

Este tipo de publicação amadora começou a se difundir na década de 1930 nos Estados Unidos, através de sindicatos reivindicando direitos. Na mesma época, os fãs de ficção científica que não viam matérias sendo publicadas sobre seus livros e filmes prediletos na grande mídia, resolveram dar vazão à sua produção textual em revistas próprias amadoras de pequeno formato e tiragem. O campeão de xadrez e entusiasta da ficção científica Russ Chauvenet foi quem criou o portmanteau fanzine através das palavras fanatic (fanático) e magazine (revista) para definir este tipo de publicação não profissional já em 1940. Tudo era enviado ao mundo inteiro através de redes montadas através de trocas de cartas e continua assim - com menos intensidade - até hoje.

Com o surgimento do rock and roll na década de 1950 e o maio de 1968 pelo mundo, os fanzines tomaram um grande fôlego até sua forma mais potente na década de 1970 após a aparição do movimento punk. Para se ter noção da importância deste tipo de publicação para o movimento, muitos zineiros só consideram a existência do fanzine como se convencionou hoje a partir do punk. O nome do primeiro zine na categoria punk também tinha título pancadão, Sniffin' Glue, ou seja, Cheirando Cola, provavelmente uma alusão à uma música homônima do Ramones.

Os fanzines prepararam o terreno para o aparecimento da mail art, do e-mail tosco enviado à revelia e até mesmo da arte urbana, através dos stickers e da poster art - também são feitas trocas desses papéis pelo correio para serem pregados pelo mundo. Quanto à nossa linguagem, grande parte das gírias e abreviações usadas por usuários de computadores é derivada dos jargões praticados pelos fanzineiros. O copyleft, começou a ser debatido em diversos fanzines antes mesmo do mundo virtual. A estética suja usada que hoje vemos até mesmo em novelas juvenis idiotas é uma chupação do formato de publicação que qualquer pessoa faz em casa.

Os primeiros coletivos de blogueiros aqui no Brasil mesmo foram fundados por zineiros experientes – vide os nada modestos membros do Cardosoonline.

E Hoje, Alguém Ainda Faz Isso?

Todo mundo que escreve por prazer sem o intuito de ser remunerado é um zineiro potencial - vide este escriba aqui. A grande mídia sabe muito bem que muitas tendências musicais, de moda e comportamento são lançados por blogueiros – ou zineiros digitais – e obviamente diversos jornalistas sugam suas pautas desse povo nerd que não tem o que fazer além de escrever sobre aquilo que gostam.

Muitos jornalistas já foram zineiros ou leitores de zines e outros ex-zineiros partem para negócios na seara da cultura alternativa como donos de pequenas gravadoras, pequenas grifes após ter contato com um mercado possível através da correspondência. Grandes ilustradores, como Fábio Zimbres, Andre Dahmer e Allan Sieber tiveram seu começo através da zinagem.

Através do blog coletivo Zinismo, podemos ver que tem muita gente relutante no velho formato papel sim. Alegando serem de origem “autoral e independente, formado por uma confraria de fanzineiros separados pela distância física e aproximados pela era digital”, o blog está no ar desde o final de 2008 e em plena atividade, sempre com alguma novidade no tradicional formato xerocão muendo solto por aí.

Em Belo Horizonte tem um pessoal muito dispô, que é o povo do Grude Sujo, formado por Desali e Estandelau. Além de outros loucos esporádicos e sem periodicidade que publicam suas impressões em papel, como o zine A Zica, que está pra ser impresso por mim, Luiz Navarro e Marcelo Lustosa.

E pra terminar sem lero-lero, fiz uma coletânea hits inspirada nessa cultura e no livro Mate-Me, Por Favor, escrito pelo ex-zineiro Legs McNeil, logo, Kill Me, Please (canhotagem):



01) Richard Hell & The Voivods - Blank Generation

02) The Velvet Underground - There She Goes Again

03) Ramones - Now I Wanna Sniff Some Glue

04) MC5 - Kick Out The Jams

05) The Cramps - Human Fly

06) Iggy Pop & The Stooges - I Wanna Be Your Dog

07) The Dictators - California Sun

08) T. Rex - Chariot Choogle

09) The Clash - Garageland

10) Dead Kennedys - Police Truck

11) Misfits - Teenagers From Mars

12) Generation X - Dancing With Myself

13) The Gun Club - She's Like Heroin to Me


Texto feito para a http://sopamagazine.blogspot.com/ Nº 4:



Nenhum comentário: