quinta-feira, 22 de julho de 2010

Os Bastardos Populares 4

Enquanto o governo brasileiro segue com sua preocupação em possuir uma nova regulamentação dos direitos autorais pós-sampler e pós-download para proteger os autores nestes tempos que nada é de ninguém, o fluxo de gente fazendo e compartilhando seus frankensteins musicais a partir de obras alheias continua.

Filhos bastardos de músicas queridinhas das mais diferentes tribos, os mashups são a autêntica desconstrução do hit, muitas vezes mais sincera do que as próprias canções originais. E pode fazer isso? Sob o olhar classicista, fazer isto é ilegal, da mesma forma que é ilegal você escutar um mp3 no seu ipobre.

Pra quem acha que isso é moda passageira, a cultura veio pra ficar com o cultivo do P2P, num remix ingenuamente punk, bem mais sincero do que muito barulho que andam fazendo por aí (no sentido do faça você mesmo). Fiz três textos e coletâneas, sobre o tema, Os Bastardos Populares, Um, Dois e Três.

Pra bolar seu próprio mashup, mexidinho, ou bastard pop, você pega o acapella de determinada música e ajunta com o instrumental de outra que possui as BPM (batidas por minuto) semelhantes, criando assim uma nova canção. Divertido nisto é que às vezes colocam-se vozes de cantores desconhecidos mescladas às mais chatas batidas radiofônicas ou vice-versa. Em síntese, são duetos improváveis, atemporais.

Há muito tempo que no Brasil existem diversos bons talentos fazendo esse tipo de som, começando pelo meu xará, o pró-barango e pró-lambada João Brasil, que desde 1º de janeiro de 2010 toca seu blog-projeto 365mashups onde colocará até o final desse ano, diariamente, uma mexida dessas on-line, algumas delas divertidíssimas. De tempos em tempos o sujeito cria um tema pra misturar em cima, de Beatles à baile funk, Ratos de Porão com Caetano Veloso, e muita putaria cada vez mais blasfêmica pros fãs radicais dos medalhões da música.

Outros brasileiros pra serem ouvidos por aí também, o jovem capixaba Andre Paste e o economista Faroff, que é ex-integrante dos Móveis Coloniais de Acuju, além do ilustrador e fuçador musical Sassá (ou Brutal Redneck).

Apesar de estar cansado de saber que a maioria absoluta dessas mexidas é um lixo, curto fazer sempre uma coletânea do gênero. Fico satisfeito de compartilhar com quem também gosta e, como eu, não encontra nada de novo. Como grande parte dos DJs deste gênero híbrido são franceses, não demorou que encontrasse um tributo a Serge Gainsbourg, então tirei uma música do tal álbum, que chama Eu Detesto Serge Gainsbourg, e já que a coletânea nem é boa, a canção escolhida é.

Não podia deixar de dizer que alguns dos artistas que estão sempre presentes nas coletâneas que faço, o totom, lançou um álbum muito bacana só de misturas com Bob Dylan desde que fiz a última coletânea desse gênero e o Dj Moule, que é fera em mesclar mais de duas músicas numa só e fluindo, coisa rara.


01) DJ Moule - Hey, C La Vie (Pixies vs. Peter, Bjorn & John)
02) DJ Erb - Holla in tha Holler (Soggy Bottom Boys vs Gwen Stefani)
03) G3rST - Bloom to Me (Nirvana vs. Koop)
04) Illuminoids - Solta o Space Woman (Wolfmother vs. MSTRKRFT vs. Bonde do Rolê)
05) Faroff - The Bits Are Playing at my House (LCD Soundsystem vs. Beatles)
06) Mad Mix Mustang - Holiday Of Choice (Fatboy Slim vs. Dead Kennedys)
07) The Illuminoids - Pretend We're Alala (L7 vs Cansei de Ser Sexy)
08) DJ Zebra - Disco Oai (Oai Star vs. The Disco 4)
09) totom - Shame on a Bootlegga (Wu Tang Clan vs. NIN vs. SOAD)
10) Yold - Pretty Fly for a Poinconneur (Serge Gainsbourg vs. Offspring)
11) Brutal Redneck - Mashupers Must Die (Prodigy vs. Afrika Bambaataa)
12) João Brasil - Uma Partida de Umbabarauma (Jorge Ben vs. Skank)

Se quiser escutar a primeira da coletânea, aperta o play:




Este texto foi feito como colaboração para a Sopa Magazine nº5, que tá cada vez mais massa e linda:

Um comentário:

Anônimo disse...

what an amazing flux of nice bands on a mashup collection.

fu**ing nice, dude!